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sábado, 26 de março de 2011

O Declínio do Ocidente.

A iminente queda da civilização ocidental.

Há dias vi um interessantíssimo documentário da BBC sobre o renascimento do Oriente e particularmente da China, o dragão adormecido. Tal com o mítico animal medieval, a China tem queimado mercado atrás de mercado com a sua mão-de-obra-barata, ética de trabalho árduo e um rapidíssimo “catch-up” tecnológico em relação ao “Ocidente”. E isto tudo produzido apenas na faixa litoral deste imenso pais, dado que o mercado interno nas províncias interiores ainda está “por desbravar”. Certo que este desenvolvimento tem tido custos imensos, especialmente nas “sweat-shops”, nas falhas de direitos dos cidadãos, mas afinal um império não se constrói sem sacrifícios, se bem se lembram, foi assim que o Reino Unido construiu o seu nos séculos XVIII e XIX com a ajuda da revolução industrial que veio impulsionar a tecnologia, mas também criou muita miséria humana e injustiças. No entanto, este império já não é novo, lembre-mo-nos que existe há mais de 4.000 anos e até há cerca de quinhentos anos atrás, a China seria provavelmente o país mais avançado do mundo, com cidades bem planeadas que fariam corar de vergonha as grandes metrópoles europeias da época. No entanto, depois de séculos de desenvolvimento tecnológico, e especialmente depois do Imperador Zeng He (dinastia Ming) ter estimulado as artes e a cultura e também as viagens marítimas de descobrimento de novos mercados (não foram só os portugueses), e diz-se que chegaram ‘a costa ocidental americana. Depois de uma série de revoltas e contra-revoltas a dinastia Qing (sucessora da Ming) fechou-se em copas e tornou-se defensiva, virada para dentro e vindo a perder a influencia externa que ate aqui tinha tido no Oriente. Chegam os ocidentais e o pais ainda mais defensivo se torna, e mais fechado. Este período durou cerca de 500 anos, com a balança de influencias de um mundo cada vez mais pequeno, para a civilização ocidental euro-americana. 

Como em tudo nesta vida, os impérios vão e voltam e neste momento sente-se o ressurgimento do velho dragão chinês que está a inverter as influencias económicas mundiais. Lembro-me bem de ler um livro que havia nas estantes de casa dos meus pais cujo titulo era: “Quando a China Despertar (o mundo tremerá)”.  E é aqui no Império do Meio  o epicentro da crise económica ocidental que cada vez mais se agudiza. Se não vejamos, tudo começou com produtos de baixa tecnologia e relativamente simples há cerca de 20 anos atrás. Depois foram os têxteis e o calcado há cerca de 10 anos e mais recentemente tem sido a industria eletrónica. Daqui para a frente serão as industrias de alta tecnologia e tecnologia de ponta (automóveis, aeroespacial, microeletronica, etc.) que vão ser dominadas pela China. E a desolação sente-se por todo o mundo ocidental; fábricas que fecham, dos Estado Unidos ‘a Polónia, cidades inteiras abandonadas por falta de trabalho (Detroit já é um exemplo disso). A pressão sobre os recursos naturais também é cada vez maior: mais petróleo, minerais, e matérias-primas estão a ser disputadas pela China e outros países em desenvolvimento, fazendo aumentar o preço dos mesmos nos mercados mundiais (dominados até aqui pelo Ocidente). Quando uma matéria prima é necessária na China, os mercados secam completamente, fazendo dispara os preços, tal como aconteceu com o aço há alguns anos atrás. É esta “revolução industrial” que está a enriquecer a China. A China é já um dos maiores emprestadores de dinheiro a nível mundial, ultrapassando o Japao e os Estado Unidos. Pensem nisso quando voltarem a desdenhar dos chineses, ou a contar anedotas jocosas sobre os mesmos. O que se está a passar neste momento é uma guerra económica e a balança volta a pender para o Império do Meio. 

E o Ocidente? O resultado de tudo isto é o empobrecimento do Ocidente. Um Ocidente que foi (ainda é) o centro cultural do mundo e que tal como aqueles velhos aristocratas falidos dá-se aparências de rico, mas tem de pedir emprestado aos seus serviçais. Endividou-se demasiado, enredou-se em jogos de azar que só aceleraram a sua já previsível queda. Tal como a China há 500 anos atrás, é de esperar revoltas, sangrentas ou não, convulsões e um período de austeridade económica que nos ira fazer regredir pelo menos cinquenta anos, um fechar de portas para o resto do mundo (o oriente neste caso), provavelmente futuras humilhações políticas e militares e quiçá quinhentos anos de isolamento.  O que se passa nos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) irá alastrar-se provavelmente ao Reino Unido, Itália e outros. Os Estado Unidos ainda não estão de joelhos, mas pouco falta. As necessárias contenções fiscais que irão durar décadas, vão apenas acelerar o empobrecimento do ocidente, se não vejamos, desinvestimento na educação, ciências e tecnologia, financiamento da economia cada vez mais dificil, irão estagnar o nosso desenvolvimento e mergulhar o “Ocidente” novamente numa era de “trevas” da qual dificilmente sairemos. Alguns poderão contra-argumentar que sem o mercado “ocidental” a China não poderá vender os seus produtos. Quanto a isso eu respondo 1) A China tem uma visão da economia a muito longo prazo (ao contrario de nos ocidentais) 2) Existem mais países grandes em desenvolvimento (BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China) com mercados ainda relativamente imaturos. 3) O mercado interno chinês ainda não está totalmente coberto, existindo largas faixas de território ainda com níveis de vida equivalentes aos do Paquistão, e com populações igualmente grandes, portanto se mais nada resultar, o mercado interno tem capacidade de absorver toda a produção nacional. E finalmente 4) África. A China é cada vez mais “a” potencia influente em muitos países africanos onde tem interesses extrativos e industriais instalados. E a sua filosofia de exploração de recursos naturais é muito diferente da ocidental. A China não está interessada em expandir territórios, e sim em expandir influencias, e para isso apresenta melhores propostas de negócios aos seus parceiros. Possivelmente propostas menos desonestas do que as do “ocidente”. 

Por tudo isto creio que estamos no começo do fim de um período que durou cerca de meio milhar de anos, quando um pequeno país do Sudoeste da Europa abriu as fronteiras do mundo e encurtou a distancia entre o “ocidente” e o “oriente”. E o resto é História.

domingo, 20 de março de 2011

Da Era do Consumismo 'a Era da Estupidez

Numa era de incerteza económica como aquela em que vivemos atualmente, muitos, se não todos encaramos o nosso futuro com muita apreensão. 

De uma coisa podemos ter a certeza, não iremos ter as perspetivas de carreira num emprego seguro, como  até agora tem sido mais ou menos a norma e como o foi certamente para a geração dos nossos pais e avós . Teremos de aprender a ser  com “free-lancers” do nosso trabalho e das nossas capacidades e teremos de arriscar mais do que até aqui. Isso implicará sairmos da nossa zona de conforto e irmos ‘a luta. Muitos de nós tiveram a sorte de poder aceder ao ensino superior. Cujas   oportunidades num mercado de trabalho normal (eu sublinho, normal) serão teoricamente maiores do que para aqueles sem “canudo”.
A minha experiência de Reino Unido (onde os direitos adquiridos são menores do que por exemplo em Portugal) diz-me que em tempos de prosperidade económica a facilidade de sair de um trabalho que não se gosta para outro é muito grande. Para contrariar isto, as empresas tentam oferecer contrapartidas como treinamento, bónus, PPRs, etc. para manter os seus funcionários  e evitar altos índices de rotatividade de trabalhadores, porque isso acarreta custos administrativos muito altos. Com isto mantém-se o desemprego em níveis baixos. 

Diz-se ‘a boca pequena que os conselheiros especiais deste governo de coligação tem em média 28 anos de idade, onde o normal seria terem 28 anos de carreira. Os “civil servants” ingleses (aqueles que antigamente usavam chapéu de coco na City) são dos cargos públicos mais respeitados no Reino Unido (os titulares sobem por mérito na Função Pública até diretores-gerais) e muitos detém mais poder que os ministros, são muitas vezes quem lhes consegue dar a volta para aplicar medidas mais racionais do que a “boa vontade” política muitas vezes quer fazer. Na famosa série cómica “Sim Senhor Ministro” muito popular nos anos 80 e baseada muito certamente em alguns factos reais, quando o ministro vinha com ideias mirabolantes o diretor-geral respondia dizendo “isso é uma medida muito corajosa” (querendo dizer muito diplomaticamente, estúpida). O ministro que já conhecia este protocolo dos funcionários públicos, respondia “então qual é a sua opiniao?”  E o diretor –geral então faria o ministro mudar de ideias com a ajuda do conselheiro especial. O que se passa hoje no governo de coligação é o seguinte “isso é uma medida muito corajosa sr ministro”. “Acha sr diretor-geral? Então aplique-se”. 

No entanto, estes tempos de crise são diferentes de todas as outras crises anteriores. Neste momento temos um governo que apenas sabe que tem de cortar a divida. Mas não faz a mínima ideia de como, as tais ideias “corajosas”. Sem conselheiros especiais experientes e ministros estúpidos,  apenas dispara que os diferentes sectores tem de cortar as verbas que recebem do governo para orçamentação. E espera sossegado que o pânico se instale, os sectores públicos cortem onde é necessário (mas completamente ‘as cegas) e depois espera que a poeira assente e aí sim envia as diretivas aos departamentos. Esta lógica “mercantilista” do Estado irá corroer a sociedade e retarda-la em cinquenta anos. Voltaremos de novo ‘a falta de oportunidades para os mais desfavorecidos que continuaram a ser cada vez mais desfavorecidos e as desigualdades a aumentar. No fim da reforma do ensino superior as famílias terão de endividar-se em cerca de £20,000 para colocar os seus filhos na Universidade. Se não vejamos, as propinas irão subir para um máximo de £9,000 (as universidades de topo já disseram que vão cobrar o máximo). As outras, terão de adivinhar um valor e torcer para que seja concorrencial com outras universidades similares. Um valor muito baixo e as contas ficarão no vermelho, um valor muito alto, e os estudantes fugirão para universidades mais “baratas”. A expectativa é a de que os valores ficarão pela casa das £7,500-£8,000/ano. Mas se a Universidade A oferecer o mesmo curso por menos £200/ano, que a Universidade B que apenas dista 10 KM de distancia, estão a ver o resultado. Depois vem o alojamento. Em Londres poderá ir até cerca das £160/semana. Em Manchester, p.ex andará pelas £60-70/semana. Optar por Manchester poupará um ano de propinas quando comparado com Londres. E se o aluno por mérito quiser continuar com um Mestrado? Mais  £15,000-20,000/ano a acrescentar ‘a sua divida de £24-27,000 fora despesas de manutenção (alojamento, comida, etc.). Facilmente uma família ou um aluno ficará com uma divida de £50,000 antes de começar a trabalhar. E as famílias com dois ou três filhos a estudar no Ensino superior ao mesmo tempo? Incomportável. Voltamos aos tempos antigos onde as famílias terão de escolher apenas um dos filhos para ir estudar, enquanto que os outros terão de ir trabalhar, mesmo que sejam bons alunos. Eu ouvi da boca de um reitor dizer que reformas como esta que deveriam levar 10 a 15 anos a completar, estão a levar cinco a sete.

Para o Reino Unido a Educação Superior está como o Turismo para Portugal. É um sector extremamente importante e estratégico não só porque produz cientistas e profissionais acreditados no mundo inteiro, mas porque é visto como um dos melhores do mundo. A população estudantil estrangeira no reino Unido será de 50 a 60% do total, e isto representa bastante dinheiro para os cofres públicos e das Universidades, até porque os alunos fora da União Europeia já pagam o dobro em propinas do que os nacionais (EU incluida).

Em tempos onde o endividamento já está a ser um problema dentro e fora da União Europeia, é fácil adivinhar o resultado destas “corajosas” medidas.

terça-feira, 8 de março de 2011

Synecdoche, New York. Muito provavelmente o filme da minha vida.

Já alguma vez viu um filme ou leu um livro que assenta como uma luva na sua vida? Se até aqui tinha "O Amor em Tempos de Cólera" como o meu livro favorito, que retrata a vida de um homem cujo objectivo maior era o de voltar a ter a única mulher que sempre amou e logo, o controlo da sua própria vida; pelas razoes exactamente opostas Synechdoque, New York passou a ser o meu filme favorito.

A fantástica história de Caden Cotard, um director teatral que perdeu o rumo da sua vida, vivendo cronologicamente desorientado, fisicamente em decadencia, e angustiosamente  a tentar controlar o seu destino no dia em que a sua esposa, uma artista plástica o deixa para ir viver para Berlim.
Esta é a linha de charneira do filme: o momento em que Adele parte para Berlim com a filha do casal. A partir daqui é o descontrolo emocional, físico e temporal de Caden, a quem mais tarde é  atribuído um prémio  teatral monetário que é totalmente investido numa peca de teatro replicando a sua vida ‘a escala real, na cidade de Nova York dentro de um velho armazém, numa frustrada tentativa de voltar a controlar o rumo perdido da sua vida.
As analogias e as relações sucedem-se, a casa da amante de Caden sempre em chamas, os quadros miniatura de Adele em Berlim cada vez mais pequenos ao mesmo tempo que o armazém em Nova York se torna cada vez maior. As relações frustradas com outras mulheres, a contratação para fazer o papel de Caden na peca, de um homem que o persegue há dezassete anos e que o compreende melhor do que ninguém. Algum Jungianismo aqui com uma pitada de Hegel. Tudo ‘a volta da ilusão de um dia voltar a ver Adele.
No fundo um filme que se dedica ao “e se…” E se eu tivesse escolhido um caminho em vez de outro o que seria a minha vida? E se eu tivesse tomado uma decisão diferente o que teria acontecido? No fundo o filme nos mostra que apenas temos controlo decisório sobre as nossas vidas nos momentos em que somos confrontados com encruzilhadas (as chamadas encruzilhadas da vida, que muitos poetas já dedicaram inúmeros versos). Uma vez escolhido o caminho, certo ou errado, não há volta a dar, perdemos o controlo e temos de aguentar com o resultado das nossas decisões. Muitas vezes parece que a nossa vida é um sonho dentro de um sonho, e apesar de estar dentro da nossa mente, não o conseguimos controlar, o filme com certeza que o é.

Tal como Caden, também já olhei muitas vezes para trás e pensei em voltar a tomar o controlo das decisões que tomei (ou que não tomei); voltar atrás e decidir diferente. Tentar imaginar o que seria a minha vida se… Este filme mostrou-me que é inútil. Também não tenho o controlo do rumo da minha vida como desejaria, viajo por ela como se num barco a descer um rio ao sabor da corrente e olhar a paisagem e as pessoas a mudar ‘a minha volta. Tentar alterar isso (voltar para trás e apanhar o outro barco) apenas tem adicionado infelicidade ‘a minha existência (armazéns por cima de armazéns a replicar o que nunca foi).
Saborear a paisagem que se vai abrindo, mesmo que por vezes escura e medonha, é algo que se aprende com o tempo e com as feridas da vida. Afinal, como diz o padre no monólogo do funeral  da peca de teatro de Caden e que no fundo resume o filme e as nossas vidas (http://www.youtube.com/watch?v=Z9PzSNy3xj0): de todo o tempo que passamos  na Terra, na maior parte dele ou estamos mortos ou ainda não nascemos. E apenas vivemos uma fracção de segundo. Para quê desperdiçar o nosso tempo ‘a espera daquilo que nunca vem? Da promessa, do telefonema, da carta, do email, para depois vivermos ressentidos e tristes e angustiados.   

Afinal o destino existe, mas somos nós que o fazemos. Há filmes que nos assentam como uma luva. Este assentou-me perfeitamente.