Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 25 de março de 2016

Quando o tempo mudar




Quando o tempo mudar
e o meu casaco de chuva se voltar ao sol,
e os sapatos cor de frio descalços,
então terá chegado o dia.

Quando o tempo mudar
e a neves derreterem, e as cores voarem,
e o céu for azul de novo,
então será chegada a hora.

Quando o tempo mudar
e Primaveras floridas na minha camisa,
e erva fresca nos meus pés,
então saberei o caminho.

Quando o tempo mudar
e a chuva cessar, e o vento nas falésias se calar,
e uma flor de açucena voltar,
então estarei pronto.

Quando o tempo mudar
e as lágrimas secarem nas vidraças,
e tu fores paisagem nos meus olhos,
serei água em tuas mãos.

Quando o tempo mudar
e o sonho voltar a ser sonho,
e o Verão tempo de rosas e no meu corpo o teu sal,
então saberei quem sou.

Quando tempo mudar
e deus finalmente a dormir,
e na madrugada fria despertares do sono,
então serei coroa de orquídeas.

Quando o tempo mudar
e o vento levar de volta o barco,
e correntes profundas lhe derem élan,
não mais olharei para trás.

Quando o tempo mudar
e as montanhas deixarem de ser montanhas
e nos pinhais murmúrios distantes de vozes antigas,
então tudo será consumado.

©Alexandre-Alves Rodrigues 2016



sábado, 5 de março de 2016

Sou de um país feito de brumas



Sou de um país feito de brumas
Filho de antigos arquipélagos,
Sal em corpos de náufragos
Que se espraiam nas espumas.

Sou passado distante, ferida aberta
Punhal feito ponte, ponte abraço
Sombra perdida na saudade deserta
Forasteiro sou de todo o regaço.

Fui branca torre, baluarte distante
Disparei longe olvidado canhão
Descarrego rajadas de noite no silêncio
Certeiras alcançam nenhum coração 

Meus olhos são dois horizontes molhados
Minha vontade, navio naufragado
Serei para sempre feio consternado
Mergulhado em pélagos passados.

Sou de um país feito de brumas
Filho de antigos arquipélagos,
Sal em corpos de náufragos
Que se espraiam nas espumas.

©2016 Alexandre Alves-Rodrigues