sábado, 28 de setembro de 2013

Reencontro



… E depois, depois há o choque da surpresa inesperada, do rosto impossível naquele lugar onde menos se espera encontrar a cara familiar que as lentas marés do tempo se encarregaram de ir erodindo devagar até restar nada mais que uma vaga lembrança, diáfana como um véu submerso nos esconderijos afogados da memória. E é como se a terra debaixo dos pés tremesse até às suas entranhas, abalando o íntimo da mais perfeita compostura, construída devagar ao longo de muitos anos, pedra-a-pedra como muralha de defesa contra investidas de afetos impossíveis que nunca o chegaram a ser por inexequíveis que o foram, deixando em escombros esboroados os alicerces da edificada dignidade que resta, abandonada e prostrada, muda e sem reação possível. São esses encontros, mais do que quaisquer outros, aqueles que fazem o homem soçobrar do alto das suas certezas de pés-de-barro e sentir-se, como um afogado num rio caudaloso de perpétuas tristezas, e onde não tem mais controlo sobre os seus músculos, tendões e ossos, carregados inanimados como sedimentos até aos confins dos mares das grandes desilusões.

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