Quando eu morrer meu amor, diz ao vento que não pare de soprar. E que leve as novas da minha morte aos profetas que a anteviram. Assim compreenderão que as suas profecias se cumpriram no meu último dia. Quando eu morrer meu amor, não te assustes, olha bem para o alto e escuta o rumor das árvores; o seu lenho fará do meu esquife berço, as suas folhas manto e mortalha. O seu restolhar embalará a noite eterna. Quando eu morrer não te aflijas, juro-te que ficarei bem. O céu permanecerá azul e a andorinha fará ninho na sua mocidade.
Quando eu morrer, ri, ri
muito. E ri-te de mim também, porque não te sobrevivi. Só desta vez fui eu quem
se espraiou primeiro. E não te esqueças de dizer às marés que não parem de
subir e descer para que as rosas mal-amadas se lembrem de quem negaram. Quando
eu morrer, não enlouqueças. Espalha as minhas cinzas pelo sul da Serra, para
que eu possa contemplar todos os dias a aurora, o resplendor e o pôr-do-sol na imensidão
do oceano. Que o meu túmulo continue a ser altar de amantes.
Quando eu morrer não deixes
que a dor da minha ausência tome conta da tua juventude; o tempo virá cobrar os
dias perdidos e o ressentimento tomará conta de ti. Quando eu morrer, diz à
chuva que não deixe de cair, para que as suas gotas lavem as tuas lágrimas e te
humedeçam o corpo para que não seque. Quando eu morrer deixa que a brisa do mar
te olvide de mim e o chamamento das grandes paisagens te guie para o futuro meu
amor, quando eu morrer.
© 2015 Alexandre Alves-Rodrigues
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