Então era assim
que devia ter sido; tu respondias que ias pensar na minha proposta, quando eu
disse que gostava de ti e queria namorar contigo. Assim eu ficaria com alguma
esperança, mesmo que pequenina, de te ter só para mim. Tu mais tarde irias ter
comigo, ou melhor, combinávamos uma saída ao jardim, à serra, sei lá… esquece o
jardim e a serra, iríamos jantar juntos, eu insistiria em pagar, tu recusavas e
dirias que não, que pagávamos a meias. Eu porque sou um cavalheiro, tu sabes
disso, sempre fui um cavalheiro,
(se faz favor
minha senhora depois de si)
insistiria em
pagar a conta do jantar que serviria para por os pontos nos is, ou seja, tu perguntar-me-ias se as minhas intenções eram
sérias, eu explicaria tudo, há quanto tempo gostava de ti, as noites de Verão
passadas em branco, a janela do quarto a deixar entrar a brisa e as estrelas, o
sussurro dos grilos e a luz do quarto apagada. Dir-te-ia quase de lágrimas nos
olhos, que estava a ficar louco, talvez não o dissesse assim, afinal teria de
manter alguma compostura e dignidade, mas pedir-te-ia, ou melhor, imploraria
por uma oportunidade. Tu mais uma vez, dir-me-ias que terias de pensar melhor,
que não tinhas a certeza,
(afinal ele nem é
muito bonito mas tem uns olhos carinhosos e é bom rapaz, e há o Gonçalo que já
avançou a sua intenção)
despedias-te de
mim com um beijo na cara dentro do carro à porta do prédio onde vivias, e as
tuas irmãs a assomar da janela do apartamento dando risadinhas cúmplices, tu e
eu coradíssimos. Saías do carro de repente e gritarias; não sejam parvas. Viravas-te
para mim e dirias; tchau. E eu arrancaria a toda a velocidade, a sentir o vento
fresco na cara, depois de baixar o vidro completamente, e o coração leve, com
um sorriso de anuncio de televisão, as mãos a tremer,
(tremem-me sempre
as mãos quando estou felicíssimo)
e comprar-te-ia
um presente numa perfumaria e trazer-te-ia flores da próxima vez que te
convidasse para sair e tu dissesses que sim, vamos sair, vamos conversar,
(e a pensares nos
cabelos louros do Gonçalo que tinha uma mota comprada pelos pais não um carro
velho emprestado)
e eu,
desfazendo-me em delicadezas e atenções para te comprar o coração,
(aqui estão umas
flores, ah e um perfume espero que gostes)
e tu olhando-me
cheia de pena, porque me alimentavas a ilusão, ias dizendo que sim, sem dizer
que sim. E eu claro, ia estourando o ordenado mínimo em presentes e jantares e
idas ao cinema, e à feira de Verão. Para depois numa dessas noites quentes que
só quem vive a sul do Tejo conhece bem, talvez pelos santos populares, em que saíssemos
juntos, tu encontrasses o Gonçalo, o bronzeado a realçar-lhe os cabelos louros
e ondulados,
(não esses
cabelos lisos e sem graça que te dão um ar tão comum tão… lastimável)
a pedires-me
imensa desculpa, mas tinhas combinado sair com ele, que ele te tinha convidado
para ver o fogo-de-artificio, ou qualquer outra coisa que eu nem conseguiria
ouvir, porque entretanto tu tinhas agarrado a sua mão e desaparecido no meio da
multidão que já se acotovelava, ou porque o mundo desabaria em cima de mim, tal
como desabou no dia em que me disseste que não estavas interessada, quando eu
disse que gostava de ti e queria namorar contigo.
©Alexandre
Rodrigues 2013
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