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sábado, 8 de junho de 2013

O Escorpião




Noite espessa, remansescente do sol quente de Agosto,
a janela aberta de par em par deixa entrar o perfume inebriante das rosas do jardim enquanto as orquídeas dormem.

Na cama revolta, areeiro de senzala, as suas ancas de marfim, suadas, marcam o ritmo,
  africano,
     frenético,
       cheirando a terra vermelha molhada do continente negro.

Seus seios são mangas caribenhas, cheias de um sumo doce,
ansiando pelas mãos experientes do guajiro que as acaricia, 
pesando-lhes a maturidade antes de as provar saciando sede e fome.

Refresco do corpo em fogo e em harmonia com os movimentos das ancas, 
da boca sai-lhe um mantra, vindo dos confins gelados das Lapónias, 
 
a inicio sussurrado,

Depois, à medida que o transe se torna mais e mais sincopado,

audível,

como o lamento misterioso das mulheres de Khorasan,
os seus joelhos fraquejantes roçam as pregas do meu lençol e os dedos dos pés libertam,

a conta-gotas,

     aquela energia quente.

Ora contraido-se,

ora distendendo-se,
como a umbrela da água-viva nadando no oceano.

O rosto, como o de uma Teresa de Ávila no auge do seu êxtase visionário do anjo perfurando-lhe as entranhas com  sua lança dourada,
exuda prazer, numa boca entreaberta de olhos semicerrados, 
Transidos,
de nariz inebriado pelos perfumes e odores misturados no almofariz secreto dos feiticeiros  de Sumatra.

O seu ventre arde, quente, como os vulcões havaianos, libertando finalmente aquela lava lenta, incendiada pelo telson venenoso do escorpião devorador enquanto as orquídeas dormem.



©2013 Alexandre Alves-Rodrigues
 







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