Uma metáfora que
dura muito tempo leva a dizer disparates como este.
Adília Lopes, O
Poeta de Pondichéry.
Sei que sentes
culpa no arrepio da pele e no escuro da noite. No teu discurso transpira, pálida,
estranha e remota, a culpa que trazes desde a infância. Não sei porque a trazes
contigo. Mas sei que sentes culpa por tudo o que fazes,o que fizeste, pelo que ainda será
feito, e ainda não é obra nem pensamento de deuses ou de homens. No entanto deves
a vida que tens à culpa, aquela que te persegue na rua, no trabalho, em casa,
no bolo que comes no café, no exercício físico que praticas, no amor que fazes,
no subir e no descer, no ir e vir das marés. Sentes culpa por querer deixar a
culpa que sentes para trás.
Tal como, se não te
tivesse conhecido, escreveria poesia diferente da que escrevo, ou seja não
escreveria coisa nenhuma. E não sentiria culpa por isso, nem por te ter
conhecido, nem por me ter feito desconhecido de ti, ou por não te ter esquecido
tentando esquecer-te todos os dias. Como cavalheiro que sou abraço naturalmente
as causas perdidas. Vivi toda a vida em função de uma culpa da qual sou alheio,
mas cujo peso me obrigou a partir para um exílio de chuvas, e que, se alguma
coisa fez, foi obrigar-me a escrever poemas que não gosto e a tentar fazer
fortuna, mais por raiva que por amor.
©2014 Alexandre Alves-Rodrigues
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