São estas as manhãs de nevoeiro, as que me acordam
e fazem-me sentir nostálgico. A janela grande de sacada, traz-me de longe uma luz
meridional antiga, que irrompe de mansinho, penetrando nuvens, fogo e água.
São estas as manhãs onde de repente nos
apercebemos que o tempo foge, que somos limitados e limitantes. Que não somos
imortais, nem aqui ou em lado algum, presente ou futuro. Não temos dono, nem
algoz. Somos parte de um mesmo universo.
O Sol ilumina as árvores, neste Setembro
outonal, de luz oblíqua e sombras alongadas, dourando ainda mais as folhas
caídas. E o orvalho matinal cobre de humidade o que resta do verde dos dias quentes.
O universo recicla-se nesta escala tão pequena
quanto limitada. Afinal somos poeira de estrelas, infinitamente reciclada,
construída e destruída a uma escala tão atómica quanto gigantesca, inimaginável.
E é sob esta luz diáfana e filtrada pelo nevoeiro
que aprendemos a vida. E a reconhecer que somos limitados, em força e tempo. A vida
que conhecemos tem de ser aproveitada, tem de ser útil. Mesmo que isso pareça o
contrário aos olhos de todos. Somos donos do nosso próprio destino, do nosso
paraíso. E do nosso inferno.
Temos
de nos realizar pessoalmente antes que seja tarde demais. Antes que o tempo
apague a nossa frágil memória e o pó das centúrias apague a nossa memória das
memórias futuras. O vento sopra nas árvores e as folhas caem. No chão desfazem-se
em poeira, serão nova vida, novos elementos, nova matéria. Os mesmos átomos.
São assim, as minhas manhãs de nevoeiro.
© 2014 Alexandre Alves-Rodrigues
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