Foto: Dan Verhoeven. |
Acordei num sonho dentro de água. A água onde estava era de um azul petróleo.
Nem fria nem quente. Água por toda a parte. Sem fundo. Sem superfície. Uma
luminosidade bruxuleante adivinhava-se do alto. Longe. Silêncio absoluto, calmo
como só o acto de mergulhar permite. O silêncio do mar dentro do mar. A calma
que as profundezas dos mares guardam em si. Observava alguém descendo ainda
mais profundamente que eu, devagar, auxiliado por um cabo. Pensei devagar nos
riscos de embolia ao subir demasiado rápido de um mergulho em apneia. Deixei-me
estar. Tudo tão calmo. Tudo tão silencioso. Tudo tão azul. Comecei a esvanecer
devagar pairando naquela água, tornando-me água também. O azul petróleo
escureceu lentamente até ficar negro.
Esta noite acordei com o coração a bater demasiado devagar e a querer
saltar do peito, senti a pulsação na cabeça, como se as artérias fossem
rebentar. Bradicardia. Eram 4.30 da manhã. Tudo calmo. Tudo silencioso.
©Alexandre Alves-Rodrigues 2016
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