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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Bradicardia


Foto: Dan Verhoeven.





Acordei num sonho dentro de água. A água onde estava era de um azul petróleo. Nem fria nem quente. Água por toda a parte. Sem fundo. Sem superfície. Uma luminosidade bruxuleante adivinhava-se do alto. Longe. Silêncio absoluto, calmo como só o acto de mergulhar permite. O silêncio do mar dentro do mar. A calma que as profundezas dos mares guardam em si. Observava alguém descendo ainda mais profundamente que eu, devagar, auxiliado por um cabo. Pensei devagar nos riscos de embolia ao subir demasiado rápido de um mergulho em apneia. Deixei-me estar. Tudo tão calmo. Tudo tão silencioso. Tudo tão azul. Comecei a esvanecer devagar pairando naquela água, tornando-me água também. O azul petróleo escureceu lentamente até ficar negro.

Esta noite acordei com o coração a bater demasiado devagar e a querer saltar do peito, senti a pulsação na cabeça, como se as artérias fossem rebentar. Bradicardia. Eram 4.30 da manhã. Tudo calmo. Tudo silencioso. 



©Alexandre Alves-Rodrigues 2016

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