Todos os dias desço a
Alameda da Memoria. Antes de chegar ao fundo, viro à esquerda. À minha frente o
Palácio Dourado onde Ela mora. Dourado metaforicamente falando, claro. O palácio
é branco ou rosa sujo, às vezes é castanho claro, da cor dos seus cabelos, ou
azul da cor do mar. Abro as largas portas de madeira com a chave do
ressentimento, dou-lhe tantas voltas na fechadura como os anos que passaram e
fecho a porta atrás de mim com um som de suspiro. Entro para uma vastíssima
sala escura, apenas iluminada por uma janela circular por onde incidem raios de
luz que iluminam um alto pedestal. No alto desse pedestal estão as minhas lembranças
desse tempo, e está Ela também. Ou estava, nos tempos em que a Alameda se
chamava Rua do Presente. Um tempo há muito passado (parece que foi ontem,
disse-me ela quando me escreveu) quando a rua ainda era pequena e por asfaltar.
Agora só estão as memórias e lembranças, algumas cobertas de pó, a maioria
coberta de lágrimas. Só eu sei o quanto tentei fechar à chave, ostracizar, partir,
demolir esse palácio, e sei também que não consigo deixar passar um dia que
seja sem lá voltar.
Quando saio, volto a
subir essa Alameda até ao cruzamento com a Estrada da Vida. A Estrada da Vida
passa por todos os lugares por onde andei e por onde irei. Por vezes é estreita,
lenta e esburacada; noutras é uma imensa Auto-Estrada larga mas monótona. Raras
vezes é uma estrada normal, com uma paisagem bonita e curvas e contra-curvas, a
montanha de um lado e o mar do outro. Essas só mesmo fora desse mundo que é o
meu pensamento.
©Alexandre Rodrigues 2012
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