… E depois, depois há o choque da surpresa inesperada,
do rosto impossível naquele lugar onde menos se espera encontrar a cara
familiar que as lentas marés do tempo se encarregaram de ir erodindo devagar
até restar nada mais que uma vaga lembrança, diáfana como um véu submerso nos
esconderijos afogados da memória. E é como se a terra debaixo dos pés tremesse até
às suas entranhas, abalando o íntimo da mais perfeita compostura, construída devagar
ao longo de muitos anos, pedra-a-pedra como muralha de defesa contra investidas
de afetos impossíveis que nunca o chegaram a ser por inexequíveis que o foram, deixando
em escombros esboroados os alicerces da edificada dignidade que resta,
abandonada e prostrada, muda e sem reação possível. São esses encontros, mais
do que quaisquer outros, aqueles que fazem o homem soçobrar do alto das suas
certezas de pés-de-barro e sentir-se, como um afogado num rio caudaloso de
perpétuas tristezas, e onde não tem mais controlo sobre os seus músculos,
tendões e ossos, carregados inanimados como sedimentos até aos confins dos mares
das grandes desilusões.
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