Não sendo eu um aficionado deste desporto (vamos chamar-lhe
assim por ora) porque o acho brutal, antiquado e desadequado aos tempos em que
vivemos, compreendo que haja quem o defenda, até porque quem o defende terá
interesses económicos a defender, se mais nenhum argumento for aceitável (a
tradição por exemplo). Outro argumento que já ouvi várias vezes é o de que se
se acabarem as touradas, o touro bravo extingue-se porque não serve para mais
nada hoje em dia senão para ser centro de um espectáculo antigo típico da Península
Ibérica cujas origens se perdem nas brumas do tempo, e pouco mais.
E também não sendo eu um militante dos direitos dos animais,
mas defensor dos mesmos e que se tratem com dignidade e respeito, mesmo na
morte, compreendo que os militantes anti-tourada se sintam indignados e
chocados por ainda existir num suposto país desenvolvido (ou sempre nas suas
margens inferiores pendendo ora para cá ora para lá). E como é esperado e
saudável de um país que já vai tendo uma boa percentagem da população (não
arrisco números) mais ou menos formada civicamente, relativamente viajada e quando
quer bem informada, (estou a falar da minha geração a tal que era rasca, à
rasca e agora perdida para o desemprego e para a emigração) vão nascendo e
crescendo por aqui e por ali movimentos de indignação contra aquilo que se acha
injusto, indigno e por vezes patético e bacoco numa tentativa, espero que bem
intencionada, de nos tirar da lama em que nos encontramos.
No entanto, o meu país ainda à procura de si mesmo (incrível,
ao fim de quase novecentos anos de existência), ainda não percebeu bem o que é
democracia e acima de tudo o respeito pela opinião dos outros, mesmo quando
esta é diametralmente oposta à nossa. E não posso deixar de censurar ambos os
lados desta contenda pelas atitudes que têm tido em relação ao pólo oposto. E
quando assim é passa-se da contenda para a comédia e em menos de nada para a
tragédia. E perde-se a razão. Perdem a razão os “contra” porque atacam bens
pessoais de quem vai assistir ao espectáculo. Perdem a razão “os prós” porque
atacam de modo grosseiro e cobarde quem se manifesta (e sublinho) aparentemente
de forma pacífica. Perdem a razão os do “contra” porque caiem no erro de
baixarem o nível quando vão para as páginas das redes sociais dos “prós” ameaçarem
de forma bastante feia e assustadora. Perdem a razão os “prós” quando usam da
mesma táctica baixa, foleira e indigna de um país que se diz e quer civilizado.
Algo que profundamente me indignou, mais do que o triste espectáculo
foi a completa inacção das autoridades presentes, neste caso julgo que a GNR. Além
da péssima imagem que esta suposta força da ordem dá de si mesma, dá uma
péssima imagem do país cá fora (pois, porque estas coisas são vistas cá fora); um
país de bandalheira, mole, acéfalo, sem crédito, sem lei. Actua quando não deve
e alheia-se quando deve intervir. Será do presente clima de austeridade e
descrédito das instituições de justiça? Será com medo de represálias dos “senhores
cavaleiros”, quase sempre colados à política local e com “conhecimentos” nas
hierarquias superiores das forças de segurança? Será pelas actuais (ou
permanentes) condições de trabalho e remuneratórias hilariantes? Ou será isso
tudo?
Outra coisa que me indigna nas (des)organizações portuguesas
é a facilidade com que se afirmam maiorias sem apresentar quaisquer números estatísticos,
e menos ainda credíveis a defender que existe essa mesma maioria por detrás da
organização e daquilo que ela defende. Basta ir às páginas de internet de ambos
os movimentos (de escassa informação relevante, diga-se em abono da verdade) e
verificar. E indigna-me mais porque as pessoas deviam ser mais exigentes com os
números e no entanto passa-lhes ao lado, não querem saber ou não se importam e
como resultado resmungam contra tudo e todos e não se manifestam quando o
deveriam fazer e pelas razões certas. É por isso que Portugal tem um importante
número (não arrisco valores) de intelectuais de paragem de autocarro. Será que
alguém já se preocupou em saber ou divulgar quantos aficionados existem? Terão
mesmo algum impacto social ou económico? E se realmente forem a maioria e
tiverem a sociedade a apoiá-los? Como ficam os que são contra? Desistem ou tentam
informar e educar a sociedade de modo a ser mais sensível aos direitos dos
animais? Ou vão continuar a gritar slogans de intervenção saídos dos anos
setenta e completamente desfasados da realidade e necessidades informativas actuais?
Se realmente querem fazer ver os vossos pontos de vista,
sentem-se à mesa (e não num estúdio de televisão) com um mediador neutro(e não
um qualquer apresentador de TV ou jornalista semi-encartado) e discutam o
problema a sério. Convidem os meios de comunicação a estar presentes (e não a
serem o veículo). Se não se chega a um acordo civilizado (e suspeito que não)
referende-se, leve-se ao parlamento, usem-se os meios institucionais e legais se
existirem. E legisle-se de uma vez por todas.
Mas infelizmente como tudo em Portugal, vai ficar metade por
fazer, o que se fizer vai sair coxo e desorganizado, vão gritar uns com os
outros para a televisão durante uma hora e meia contando com os intervalos a
bem do sucesso comercial do canal que os acolhe e para gáudio das audiências boçais
que perdem tempo a assistir. E para piorar a situação, agora os pagadores de
impostos (aqueles que deveriam ter voz nos destinos do país) nem vão poder exigir
que o debate televisivo seja feito no canal público de televisão (que por
razões que a razão desconhece também tem/tinha intervalos comerciais).
Estar à distância dos acontecimentos é mesmo um privilégio
que nos permite alguma lucidez.
©Alexandre Rodrigues 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentadores de bancada