Mas apenas colhi, junto à suspensa margem,
As certezas de um Inverno que me consumia na
voragem.
Jurei desistir daquela ideia, que me aniquilava os
dias
Não querer saber mais das Primaveras, nem do pasto
que o anho come.
Afinal era apenas eu que me embriagava para saciar
uma ilusão de fome.
Errei por cima do rio durante anos de
inexistência,
À espera que o gelo fino de cristal que nos
separou se partisse
Para que, sem nada que me abotoasse àquela vida
sem sentido, sucumbisse.
Soltei as amarras que me reduziam àquele velho e
desengonçado cais,
Aventurei-me pela bruma desconhecida, meio à
deriva até ao setentrião,
Onde a planície se desenrola debaixo de uma chuva
velha e o vento morde como um cão.
Assim que me redescobri na verdade dos horizontes longínquos,
dei sentido à vida,
De ideias, sonhos e fábulas criei o meu pequeno
mundo,
Onde imaginava ser feliz, mas perdurava magoado,
sem Primaveras no fundo.
Bebi vãs alegrias para esquecer aqueles tempos do
sonho,
Coroados que eram de pesadelos, e só assim por
vezes conseguia escapar.
Que a Primavera às vezes é fria e as flores no
chão demoram muito a desabrochar.
Tal como a ovelha, distraída segue julgando que
consegue comer o mundo.
Mas continua infinitamente de olhos postos no seu
próprio chão,
À procura da erva mais verde, entre o azul desse
deslumbrante mar e o cinza pálido do betão.
Dos seus objectivos secretos, das dúvidas, anseios
e culpas,
Um dia espero descobrir, sentado na suspensa
margem, atento à explicação;
Porque me roubou ela Primaveras, porque nunca
fomos os dois, amor quente de Verão.
©Alexandre Rodrigues 2012
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