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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Quis Primaveras Em Março




Naqueles tempos do sonho quis Primaveras em Março,

Mas apenas colhi, junto à suspensa margem,
As certezas de um Inverno que me consumia na voragem.

Jurei desistir daquela ideia, que me aniquilava os dias
Não querer saber mais das Primaveras, nem do pasto que o anho come.
Afinal era apenas eu que me embriagava para saciar uma ilusão de fome.

Errei por cima do rio durante anos de inexistência,
À espera que o gelo fino de cristal que nos separou se partisse
Para que, sem nada que me abotoasse àquela vida sem sentido, sucumbisse.

Soltei as amarras que me reduziam àquele velho e desengonçado cais,
Aventurei-me pela bruma desconhecida, meio à deriva até ao setentrião,
Onde a planície se desenrola debaixo de uma chuva velha e o vento morde como um cão.

Assim que me redescobri na verdade dos horizontes longínquos, dei sentido à vida,
De ideias, sonhos e fábulas criei o meu pequeno mundo,
Onde imaginava ser feliz, mas perdurava magoado, sem Primaveras no fundo.

Bebi vãs alegrias para esquecer aqueles tempos do sonho,
Coroados que eram de pesadelos, e só assim por vezes conseguia escapar.
Que a Primavera às vezes é fria e as flores no chão demoram muito a desabrochar.

Tal como a ovelha, distraída segue julgando que consegue comer o mundo.
Mas continua infinitamente de olhos postos no seu próprio chão,
À procura da erva mais verde, entre o azul desse deslumbrante mar e o cinza pálido do betão.

Dos seus objectivos secretos, das dúvidas, anseios e culpas,
Um dia espero descobrir, sentado na suspensa margem, atento à explicação;
Porque me roubou ela Primaveras, porque nunca fomos os dois, amor quente de Verão.

©Alexandre Rodrigues 2012

 

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