Olhando à distância para
os acontecimentos e confrontos realizados durante a greve geral de ontem em
Lisboa, só posso lamentar o que aconteceu. A violência é desnecessária, semeia
o ódio e causa confusão e perplexidade naqueles que se manifestam pacifica e
civilizadamente. De onde vem esta violência? A quem serve? E quem está por detrás
disto? Haverá alguma relação entre certos quadrantes políticos e a continuação
da pobreza e da miséria?
Em 1970, em plena Guerra
Fria, um jornalista da Agência de Noticias RIA Novosti foge da Índia onde
estava em missão de “cooperação” com este país, pouco antes do Paquistão
Oriental se declarar independente e se tornar no Bangla Desh, dirigido por um
governo pró-soviético. Esse jornalista chamava-se Yuri Bezminov e mais tarde
tornou-se famoso pelas suas palestras sobre subversão. E se ele sabia do
assunto. Mas já voltaremos a este senhor.
Uma das observações mais
interessantes nas sociedades mais desenvolvidas é a de que, os partidos dos
quadrantes políticos mais extremos têm pouca ou nenhuma representatividade,
devido em parte ao facto de existir transparência informativa, educação e espírito
crítico. A outra é que nestes países a democracia está consolidada há muitas
décadas sem grandes movimentos revolucionários ou guerras civis. Regra geral
os níveis de vida são relativamente elevados e existe
estabilidade.
Se por outro lado compararmos
com países de democracia recente, ou onde existiram tentativas de
desestabilização depois da democracia ter sido instalada, ou ainda em países
onde existe tendência para o culto da personalidade, regra geral de influência
católica, bastando olhar para o papel que os Papas advogam para si mesmos, para
concluímos que nesses países existem ainda forças altamente subversivas que têm
muito a ganhar com a miséria, ou mesmo a pobreza, a desestabilização, as crises
e outros fenómenos mais ou menos geo-económicos.
Estes grupos regra geral
são comandados por comités que operam na sombra, e que quando questionados
sobre o assunto refugiam-se em vagas missivas e obscuras manobras tentando-se
demarcar das acções mais violentas e reprováveis que se passam nas ruas mas por
eles instigadas. Foi assim aquando das primeiras perseguições políticas na
Alemanha nazi logo após Hitler ter sido nomeado chanceler. Este nunca assinou
nenhum documento onde se ordenasse qualquer tipo de opressão. Antes foi
assinado pela Direcção do Partido Nacional-Socialista. Conveniente. No outro extremo
do quadrante político existem também exemplos parecidos.
A subversão é a arma
politica mais perigosa que existe, ela mina lentamente os alicerces da
sociedade, desmoralizando-a, desacreditando-a, voltando os cidadãos uns contra
os outros. Os agentes subversivos são na aparência inofensivos funcionários públicos
ou partidários, mas que na realidade agem na sombra; influenciam personalidades
públicas, actores, professores, jornalistas, etc. Esta era sem dúvida a
especialidade do KGB, onde cerca de 85% dos recursos humanos e monetários eram
canalizados para este tipo de actividade.
Hoje em dia o KGB já não
existe, pelo menos na forma como o conhecemos até ao final da década de 80, mas
a influencia subversiva deste regime ainda se manifesta em partidos marxistas de
linha mais dura e que nunca evoluíram, ao contrário dos seus homónimos do centro da
Europa Ocidental depois da invasão da Checoslováquia em 1968. A razão estará talvez por
até 1989 terem sido financiados directa ou indirectamente pela antiga União
Soviética. Do mesmo modo os regimes de extrema-direita ou de tendência fascista
também não, desde que em 1978 a Espanha proclamou a democracia através de uma
nova constituição. Estes partidos (de um ou de outro lado do espectro politico)
estão ainda enraizados curiosamente nos países mais pobres da Europa e
especialmente da Europa do Sul. Não quero com isto dizer que eles sejam
responsáveis pela crise que hoje assola em grande escala esses países. Estes
partidos, regra geral nunca governaram em democracia, e por tal não se lhes
pode imputar essa responsabilidade. Mas são bastante activos no modo como
desmoralizam, desestabilizam, carênciam e finalmente tomam o poder. Quanto mais
miséria existe, mais estes partidos crescem e revolvem-se nela. Quanto mais
descalabro social, mais estes partidos vingam. Ilude-se quem acha que este tipo de partido é a favor da melhoria das condições de vida dos cidadãos.
Mas reparem, que a subversão da
sociedade é sempre feita na sombra e debaixo de uma capa de legalidade. Certo
que os seus dirigentes se manifestam, e manifestam o seu desagrado em relação a
qualquer politica que qualquer outro partido que esteja no poder execute.
Existe uma expressão muito curiosa e que lhes assenta que nem uma luva: “parece
que são sempre do contra”. E são! Desde associações desportivas, concelhos
escolares, comissões de trabalhadores, até ao parlamento, existem agentes,
muitas vezes sem se aperceberem que o são, desta mesma subversão. Ter esta
postura de negativismo, de diálogo de surdos, de “bater sempre na mesma tecla”
faz parte de toda uma estratégia que inclui a confusão, a sensação de ausência de
poder e outras manobras politicas e culturais com o único objectivo de trazer
frustração, caos e assim assumir e perpetuar o poder, e de um modo opressivo.
Voltemos então a Yuri
Bezminov. Este adido da embaixada soviética, e jornalista da RIA Novosti era
tão só um agente subversivo do KGB que foi instrumental no então Paquistão
Oriental (hoje Bangla Desh) a rebelar-se contra o Paquistão Ocidental (hoje
Paquistão) e a tornar-se independente, através da disseminação da desmoralização,
propagada por grupos islamistas de influencia soviética, a desestabilizarão do
poder através de golpes, assassinatos, etc. e finalmente a crise e vazio de
poder. No fim, alguns destes intelectuais e mesmo políticos marxistas foram
fuzilados, e no poder foi colocado um governante treinado pelos soviéticos. Simples? Não. Exige muita persistência.
É pois do interesse de
quem nos governa e dos próprios agentes económicos, já para não dizer dos cidadãos,
que se crie um país onde o bem-estar seja prioritário, os ordenados sejam
dignos de trazer prosperidade económica ao país, onde a justiça funcione, a
educação funcione, onde há transparência para evitar mexericos e desconfianças,
onde não só os direitos sejam respeitados, mas também os deveres e onde haja
responsabilidade social. Naturalmente assim, estes partidos e os seus agentes
deixaram de ter importância e resumir-se-ão à sua própria irrelevância. Basta
sermos como país, mais inteligentes na forma como gerimos os nossos negócios,
como gerimos o Estado e como actuamos como cidadãos atentos e exigentes, mas cumpridores.
Existe no YouTube uma fascinante
entrevista , dada por Yuri Bezminov em1984, em nove partes, que vale a pena ver, onde este
relata como é conduzida a politica subversiva, naquele tempo mais agressiva
devido à Guerra Fria, mas que ainda vai permanecendo em menor escala um pouco
por todo o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentadores de bancada