Ainda há muito boa gente por essa
Europa fora, e particularmente em Portugal, achando que o velho continente já
bateu no fundo. Há ainda pessoas que se espantam quando afirmo que ainda não.
Desenganem-se aqueles que pensam que isto não pode piorar. Pois pode. E vai.
Não gosto muito de ser tomado por “velho do Restelo”, mas quando se começam a
fazer contas, as coisas não batem certo. Já o disse aqui que o Ocidente
está em declínio. Continuo a defender essa hipótese e basta usarmos as nossas
cabecinhas para compreender que esta é a década perdida, um preludio da grande
pobreza que aí vem (para não dizer miséria) e que a austeridade que era para
durar até 2012, agora vai durar até 2018 (dizem os iluminados políticos), mas
suspeito que vai entrar bem dentro da próxima década, e serão precisas muitas
mais para reconstruir o estrago que está a ser feito na economia e nas vidas
das pessoas.
1- A
distribuição dos recursos naturais.
Como é sabido, as duas últimas
décadas viram países com
o a China, Índia, Brasil e Rússia (os chamados BRIC) a
ter crescimentos económicos próximos, ou mesmo ultrapassando os dois dígitos.
Ao mesmo tempo que o Ocidente crescia muito devagar, poucos ultrapassaram os 3%
(que é o mesmo que dizer zero, se adicionarmos inflações do mesmo valor, fracas
exportações, etc.). Acresce também a redução do tecido industrial em quase
todos os países desenvolvidos, transferida para estes países em crescimento,
com ordenados muito mais “competitivos” e leis de trabalho mais flexíveis
(desenganem-se aqueles que acham que os chineses trabalham por pouco mais que
uma taça de arroz), onde em certos casos, como o da industria têxtil na China,
os trabalhadores se dão “ao luxo” de mudar de emprego se acharem que a fábrica
X onde trabalham lhes pagam menor ordenado ou lhes dá menos condições que a
fábrica Y ao fundo da rua. Claro que, comparativamente, os salários ainda são
baixos em relação ao dos países ocidentais. E pensando assim, de que valeria ao
Ocidente produzir os mesmos bens que os BRIC (caso o tecido industrial se
tivesses mantido) se depois não os conseguiria vender (basta ver o estrago que
as lojas chinesas têm feito no sector comercial português) e muito menos
exportar. Se o cidadão comum gosta de um bom desconto, as empresas (ainda mais)
não são indiferentes aos preços do mercado. Percebem agora porque o tecido industrial
se erodiu? E alguns países nunca investiram em tecnologias avançadas e de nicho
(apenas possíveis com um bom sistema de ensino por trás), continuaram a querer
competir com estas novas potencias.
Mas o grande causador do corrente
declínio económico (e consequente empobrecimento das populações) é a nova redistribuição
dos recursos naturais e o acesso aos mercados. Mesmo se pensarmos que em termos
gerais os recursos naturais não se reduziram (a questão é ainda alvo de debate)
nem aumentaram em relação há vinte ou trinta anos atrás, o número de países ou
blocos económicos no mercado da extracção e no mercado de transacções aumentou
em mais de 50%, concorrendo exactamente o mesmo número de recursos disponíveis.
Mais ainda se tivermos em conta que os bens produzidos com essas
matérias-primas nas últimas décadas também disparou (daí os bens de consumo
terem baixado de preço e as taxas de juro também), basta fazer umas pequenas
contas para percebermos porque defendo que as coisas tendem a piorar. Correndo
o risco de ser demasiado simplista no exemplo que vou dar, julgo que este
ilustra de modo claro o problema económico actual:
Onde há trinta anos teríamos um
recurso económico a ser explorado (cobre, por exemplo), por três grandes blocos
económicos (EUA, Japão e Europa); 1:3, hoje temos pelo menos seis a explorar e
a transaccionar esse mesmo recurso; 1:6. No primeiro caso cada bloco ficaria
com 0.33 desse recurso, no segundo caso, o actual, cada bloco ficará com 0,166
desse mesmo recurso que, logo por causa da lei da oferta e da procura ficará
mais caro que antes porque mais procurado. Se acrescentarmos que a velocidade de
extracção desse recurso é maior que à trinta anos, assim como a transacção,
processamento e venda, então conseguimos perceber porque estamos, e porque
vamos ficar mais pobres.
2- O
nivelamento das economias.
A consequência desta corrida aos
recursos é o nivelamento das economias. Ou seja, em termos muito gerais, neste
momento as economias em crescimento estão a ver os seus níveis de vida a subir,
os salários e as condições de trabalho a melhorar, etc., mesmo que nunca
cheguem a atingir o mesmo nível em que o Ocidente se encontra (ou encontrava),
qualquer melhoria é melhor que nada. Mas o outro lado da moeda para os países
ricos é que, tal como, como quando duas colunas de água (os recursos) separadas,
uma completamente cheia (o Ocidente) e outra quase vazia (o resto do mundo) se
juntam (o mercado), a coluna mais alta nivela com a mais baixa, perdendo altura
a primeira e ganhando a segunda.
3- Quanto
tempo vai durar?
Tudo aquilo que expliquei em cima
refere-se à macroeconomia. Quando falamos de cada país, as más consequências
serão mais rápidas quanto mais vulnerável for a economia do país e o seu
sistema governativo. Daí os casos (embora com origens diferentes, mas com consequências
semelhante) da Grécia, Irlanda, Portugal, etc. As economias mais robustas e
aquelas que tem mecanismos governativos mais limpos e transparentes também estão
a ser afectadas, no entanto o decrescimento é mais lento, e o empobrecimento
também, com as consequências que todos sabemos. Basta ouvir as notícias aqui no
Reino Unido para percebermos que este país (no meio da tabela económica
europeia) já perdeu, do ponto de vista económico, tanto dinheiro quanto o que
gastou na II Guerra Mundial. Para termos uma ideia da gravidade da situação, o
Reino Unido, que ficou na bancarrota levou mais de quinze anos desde o início
do conflito a levantar as barreiras de racionamento (com a “ajuda”
norte-americana). Se juntarmos a isso a crise de 1929, da qual o país nunca
recuperou verdadeiramente, então temos vinte e cinco anos de austeridade. Daí
que quando os políticos anunciam austeridade até 2018, fazem-no para ganhar
tempo. É obvio que ninguém acredita neles. Nem eles próprios.
4 - O que
fazer para minimizar os estragos?
Para minimizar os inevitáveis
estragos, temos então de pensar de um modo muito alternativo sobre como vamos
levar as nossas vidas daqui para a frente. Claro que aqueles que têm um
emprego, por muito mal pago que seja, mas que pague algumas despesas, deve
tentar mantê-lo. Mas isso não será suficiente. Aqueles que têm algum dom ou
passatempo, como por exemplo a doçaria, ou a música, talvez devam começar a
pensar em tirar partido financeiro destes. Se tiverem um bocadinho de quintal
criem uma pequena horta, ou se não tiverem, juntem-se com os vizinhos e tentem
explorar hortas comunitárias. Já existem exemplos até no topo de prédios de
habitação. Não esperem por ninguém, e muito menos pelo Estado para resolver a
vossa situação económica. As trocas de bens e serviços vão crescer. Já existem
estabelecimentos comerciais e feiras de trocas de bens a funcionar em Portugal aqui e aqui.
E acredito que irão proliferar.
Reduzir as necessidades. Este é
outro grande problema que a sociedade moderna pariu quase sem dar por isso.
Vivemos rodeados de coisas que, se pensarmos bem nelas, não nos fazem falta
nenhuma. Eu chamo-lhes de brinquedos de adultos. Evito aqui dar exemplos, cada
um terá de reflectir quais serão as suas “necessidades” pessoais e reduzi-las.
Outra falácia é a de comprar muitos bens de consumo baratos e de baixa
qualidade que, ao fim de pouco tempo se estragam ou avariam, sendo então substituídos
por outros do mesmo género. Porque não investir num bom par de sapatos de
qualidade, que dure um bom par de anos, em vez de todos os meses ou épocas comprar
um ou dois pares de péssima qualidade. Faça as contas e talvez se surpreenda no
quanto pode poupar. A simplicidade acima de tudo: Quem conhece um pouco da
Europa, por ter tido o privilégio de viajar ou viver nela, sabe que na maioria
dos países do norte, as pessoas, ao contrário do que se pensa, vivem com poucos
luxos. As casas, as mobílias são simples, muitas vezes compradas em segunda mão
ou transmitidas de geração em geração. Eu conheço pessoas com bons empregos por
essa Europa fora, que nunca compraram carro novo. Ou se o fizeram, já foi tarde
na vida, aqueles que puderam. Não é raro encontrar pessoas com carros com mais
de dez anos a circular em perfeitas condições.
Está na altura das pessoas
acordarem e ser mais exigentes com as classes politicas. Se a indiferença por
vezes não funciona (porque lhes abre a porta para fazerem o que querem) então
haja de modo inteligente. Não é muito difícil ser mais inteligente que um
politico actual. Ou é? Não pactue com a desonestidade. Se todos deixarmos de
pactuar com a desonestidade, ela acaba. Não basta manifestar-mo-nos nas ruas, ou
nos comentários que fazemos às peças jornalísticas junto dos amigos ou na Internet. Essa, junto com o voto, é a ilusão de liberdade que os políticos nos venderam.
A peixeira só vende peixe de má qualidade se tiver quem o compre. Caso
contrário, terá de ser ela a melhorar a qualidade do produto, ou fechar as
portas. A liberdade está em mudar o que está mal.
Mas não se esqueça: as coisas
ainda vão piorar mais do ponto de vista económico. Não torne a sua vida ainda
mais difícil do que ela é. Valorize o que é realmente importante.
©Alexandre Rodrigues 2013
All very interresting points and I don't disagree with most. I do wish to point out that in my opinion it is not complete, for example you mention the UK during WWII took 15yrs to recover, but I would say that after WWII the west had a baby boom, that is, an entire generation that helped drive production, consumption and overall the entire economy. Today we see an infertile Europe, so I'm curious to know what you think about the decline of demographics and how they will come into play in the future Europe.
ResponderEliminarAlso, you focused largely on macroeconomic aspects, while macroeconomic stability is important, the
central challenge to the world economy is also microeconomic reform.
Lastly I'd like to know what you think is the reason why the west, Europe in particular has failed? Is it not because they embraced a cradle-to-grave welfare state, resulting in less people producing wealth? yes, yes Scandanavia is a good example pf Socialism but so is small homogenous Vermont and Connecticut, no so large or diverse California and Italy.
Antes de mais Óscar, obrigado por leres o meu post e espero que o resto do blogue. Infelizmente por falta de espaço nos comentários vejo-e obrigado a responder-te com um novo post. Espero que possamos manter este diálogo.
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