"Everything we see hides another thing. We always want to see what is hidden by what we see.”
Rene Magritte
Abre os teus olhos. Lentamente…
Sim, sou eu. Para ti não mais que um sonho, o teu sonho vetusto,
talvez de estimação. Foi para isso que me quiseste. Nada mais sou que uma
quimera. Tão distante e por vezes tão perto; névoa antiga num rosto impreciso,
sou aquilo que resolutamente deixaste para trás. Um momento fugaz na grandeza da
tua história, das nossas histórias. Mutuamente desencontradas. Mutuamente
desconhecidas. Mutuamente ignoradas. Fomos o eclipse parcial de uma lua de
ilusão encobrindo um sol de falsa esperança. A gota de orvalho perdida num chão
infértil mas sequioso.
Dessa ordem de grandeza, mil vezes imperfeita, mil vezes
perdida, nasceu uma poesia arrítmica, tortuosa, torturada, de rimas forçadas. Estranhas
formas que se combinam e se repetem, misturadas numa cicuta de afeto. Arroubo e
raiva que não se extinguem. Exceto no dia da derradeira capitulação.
Fecha os olhos… Acorda.
©Alexandre Alves-Rodrigues 2014