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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Em Busca da Felicidade (reflexões sobre trinta e seis anos de vida)


Capa da Time sobre Portugal em 1975. A Troika neste tempo era outra

Todo o ser humano busca a sua felicidade, de uma maneira ou de outra. Quem há vinte anos me conhecia, e me redescobre passado todo este tempo notará algumas (talvez muitas) mudanças. O adolescente borbulhento e de certo modo tímido que perdia inúmeras oportunidades com as miúdas de quem gostou, que vivia uma certa religiosidade com seriedade e alguma militância mas que demonstrava já algum humor caustico, e sonhava em ser designer de automóveis ou na pior das hipóteses arquitecto, deixou de existir há muito, e poderia dizer que não tem muitas saudades desses tempos dos quais eram raros os momentos de verdadeira felicidade.


No entanto algumas coisas ficaram, o humor caustico desenvolveu-se, assim como uma certa tendência para escrever (tendência que na prática se revela um pouco fraca). Ensaios e prosa. Vem dos tempos de adolescente, especialmente a prosa, certamente inspirada pelos borbulhentos desgostos amorosos. Obrigado a todas as musas que me recusaram o coração! Já o amor às artes plásticas e ao design, esse vem dos tempos de escola secundária onde aprendi com muito gosto (e depois com boas notas) a história dos grandes mestres, das  grandes civilizações e o legado artístico que nos deixaram. Já na parte prática nunca fui excepcional, antes mediano e esquecível. A professora Paula Pinheiro tinha mesmo muita paciência.
Já no campo religioso as coisas mudaram muito. Tendo sido educado num ambiente evangélico, já de si uma anomalia num país católico como Portugal, e mantendo ainda muitos dos meus amigos e familiares ligados a essa forma de prática religiosa, aprendi com o tempo e sobretudo por ter uma curiosidade insaciável acerca de tudo o que me rodeia, a nutrir um espírito mais critico em relação aos escritos sagrados, os quais estudei durante bastante tempo. Cheguei pois à conclusão (e cá vem agora o tal humor) que muitas das pessoas que se dizem religiosas e leitoras assíduas da Bíblia, ou não a leram bem, ou então recusam-se a aceitar as suas inconsistências de modo natural. Como tudo na vida. 


Quem agora me lê pensará que este pobre rapaz guarda algum rancor à religião que o formou. Nada de mais errado. Ao contrário de muitas pessoas que abandonaram a religião, muitas por terem sido alvo de abusos inomináveis ou por terem sido forçadas a acreditar em algo que não lhes dizia muito ou porque não se reviam nas práticas pouco santas dos seus irmãos, eu pelo contrário guardo um carinho muito especial desse tempo, até porque ficou cá uma certa (chamemos-lhe assim) moral ética no que diz respeito ao individuo e à sua relação com o mundo que o rodeia, a responsabilidade individual e o amor e respeito pelo próximo, como ser semelhante, mesmo que diferente (algo que a maioria dos cristãos ainda não percebeu bem o que é). No entanto apenas quando eu questionava coisas que a mim me pareciam óbvias ou inconsistentes, as respostas eram ou pouco inteligentes ou muito evasivas, que é no fundo a mesma coisa. Nessa altura eu “só queria encontrar paz sem arrastar nem mestre nem deus” como diria Jorge Palma.


Voltando à busca da felicidade, esta sempre foi fugaz, porque não me revia em muito daquilo que me rodeava e pela falta de resposta a muita da minha natural curiosidade. Aquando da minha passagem cronológica da adolescência para a idade adulta, as coisas começaram a mudar radicalmente, se bem que lentamente. As noites de certo modo tertulianas do meu grupo de amigos mais chegados, quais vencidos da vida, especialmente na amorosa (todos nós estávamos a atravessar um período de transição nesse aspecto) deram azo a outras descobertas e prazeres; a fotografia, a musica dita alternativa, os “cantautores” portugueses, os petiscos e o generoso vinho português (e outras bebidas espirituosas mais ou menos robustas).  É por esta altura também que começo a viajar mais e com mais independência, fruto dos primeiros empregos (se é que se poderiam chamar assim) e do primeiro automóvel. Portugal passa a ser terreno virgem a descobrir por alguém que sempre sonhou partir em viagem. E é aí que nasce algum orgulho em ser português. Hoje, não sei se pensarei igual, mas não há nada mais bonito que uma solarenga vila portuguesa, encimada pelo ubíquo castelo, e um belo e farto almoço regado com um bom vinho, de preferência num sitio com vista. Mas infelizmente a vida não é feita apenas de belos lugares e boa comida. Há o lado profissional sempre presente e opressor, pelo menos em Portugal. E nesse aspecto raros foram os sítios porque passei dos quais tenho saudade e acima de tudo que tenham sido desafiantes, principalmente para quem tem curiosidade em saber um pouco mais e ultrapassar-se a si mesmo. No entanto aprendi imenso com alguns colegas dos quais ainda guardo boas memórias de camaradagem e bons momentos de trabalho. Dessas pessoas guardo ainda a sua amizade, dos sítios, apenas os sinto como um parêntesis desconfortável e demasiado longo em alguns casos.


Outro marco nesta mudança foi a minha actual esposa a qual conheço há mais de treze anos e que quietamente me ensinou o grande dom do silêncio e o de ouvir, revelando mais profundidade de carácter que muitas pessoas que como eu tem tendência para falar muito (leia-se demais). Claro que para perceber alguém bastante, digamos, silenciosa, foi preciso muita persistência sobrepor-se a alguma frustração inicial. Mas o resultado tem sido sobremaneira positivo e a relação tem sobrevivido (não sem os naturais altos e baixos comuns a quem comunga uma boa porção do seu dia com outrem) e medrado, tendo dado origem para já a um rebento.


Um dos episódios mais importantes na minha vida, se não o mais importante, foi no dia em que poisei os pés no país onde actualmente vivo, foi uma autentica Primavera em Setembro frio e atlântico. Não só pela mudança de ambiente, mas principalmente pela abertura de horizontes físicos, mas acima de tudo horizontes pessoais e de pensamento. A quantidade e qualidade de informação disponível cedo respondeu a muitas das minhas dúvidas racionais, e a pouco e pouco moldou boa parte do meu pensamento actual e da minha maneira de olhar o ser humano e o mundo. 


Muitas pessoas abordam-me dizendo que o passo que dei foi muito corajoso. No entanto, não sei se concordarei totalmente, até porque em primeiro lugar foi um ato de profundo desespero, resultado de uma imensa frustração com a mentalidade portuguesa em geral, e a de trabalho em particular e com as hipóteses de crescer profissionalmente, barradas e cobardemente suprimidas por pessoas que nunca mereceram a mínima consideração e que constantemente me enganavam. Não sendo eu uma pessoa que por norma guarde rancor ou desejos de vingança sangrenta e sanhuda, esta última fase da minha vida profissional em Portugal ainda me está “atravessada na garganta”. No entanto, como em outras ocasiões da vida pelas quais passei “la vendetta è un piatto que và mangiatto fredo”. A minha satisfação tem sido proporcionada com o tempo e sem eu ter a necessidade de intervir e muito menos da maneira clássica e pouco inteligente do olho por olho e dente por dente. Lá virá o dia e eu cá estarei, pacientemente à espera de assistir sorrindo por dentro, como já tem acontecido em inúmeras outras ocasiões. Uma das virtudes que o meu pai me tentou frustrantemente ensinar, e a vida foi mais bem sucedida, é da paciência.


No entanto não é por aí que a minha felicidade tem passado, nada disso. A minha felicidade tem passado pelo facto de me terem dado a oportunidade de provar as minhas capacidades através de desafios interessantes. E isso por si só é muito justo. Quando isso acontece, tudo o resto passa a ser secundário; o salário que se ganha ou não, o tempo que se trabalha; as pessoas com quem se trabalha e até, imagine-se, a meteorologia, que neste país não é generosa nas proporções de céu azul e sol como o são na Lusitânia. E no entanto, quando chovia, era certa a sensação de depressão. Isso e a sensação abundantemente desconfortável de “Domingo-à-tarde”.  


O respeito pelo meu trabalho e acima de tudo pela minha pessoa (sempre há as excepções) dão me imenso orgulho (daquele positivo). No entanto, não se alcança esse respeito sem uma certa dose de integridade e também de integração, especialmente num país que não é o nosso. E se isso implicar ter de beber chá com leite para acompanhar os colegas que constantemente o bebem no local de trabalho, seja. Não é que o faça com sacrifício e até aprendi a apreciar e recomendo o “Ceilão”. O leite serve como um bom e saudável substituto do açúcar.
Em relação ao salário as coisas já foram melhores, em melhores dias da economia, e isso permitiu algumas “excentricidades” das quais não me arrependo até porque foi dinheiro bem gasto, principalmente em viagens, que são sempre didácticas e culturalmente enriquecedoras, já para não dizer higiénicas do ponto de vista paisagístico. No entanto, nestes cinzentos tempos de muita incerteza económica e com muito menos horas de trabalho do que aquelas que eu desejaria; não me sinto minimamente pressionado ou deprimido como por certo aconteceria se estivesse uns graus mais a sul no planisfério. Pelo contrário, tenho mais tempo para o meu filho, para pensar e reflectir, algo que frequentemente nos esquecemos de fazer quando andamos muito ocupados. 


Se me perguntarem se já alcancei a felicidade, direi que ainda não, mas andarei certamente por perto, à minha maneira. É a minha pequena reflexão sobre trinta e seis anos de vida completados recentemente. Partilhada convosco.

domingo, 4 de setembro de 2011

Pensadores Portugueses

Pensadores Portugueses

Quando reflicto sobre a História Universal e em particular a História de Portugal tenho de, por defeito de personalidade, comparar quantos pensadores, cientistas, matemáticos, políticos e economistas portugueses são conhecidos universalmente (ou seja fora dos canais lusófonos) ou contribuíram para o desenvolvimento da humanidade. E a resposta é poucos, mesmo muito poucos.
Quase todos os países da Europa produziram de um modo ou de outro grandes pensadores, músicos, filósofos que hoje são conhecidos universalmente. E nem estou a pensar nos países mais contribuidores (porque grandes dir-me-ão os meus leitores) como o Reino Unido, a França, a Itália e a Alemanha. Penso por exemplo na Polónia que nos deu Copérnico, Chopin, Maria Skolodowska (mais conhecida por Marie Curie),  Karol Wojtyla, ou Lech Walesa, ou em Espanha que nos deu escritores conhecidos universalmente como Cervantes, ou cineastas como Almodóvar e Buñuel e pintores como Goya e Salvador Dali, entre muitos outros.
Portugal como primeiro império global da História e um dos mais longos teve o dever de dar ao mundo grandes pensadores, artistas, políticos e cientistas. No entanto, poucos, diria mesmo muito poucos são conhecidos universalmente (já para não falar daqueles que o são graças a terem emigrado, como António Damásio). E não é por falta de os termos. Se retirarmos o príncipe D. Henrique e Vasco da Gama ou Magalhães, todos eles dos tempos das descobertas, Portugal não tem muitos mais contribuidores conhecidos universalmente ou saídos das universidades e escolas portuguesas. Não temos ninguém da craveira de Newton nas área das ciências e matemáticas, ou com a força crítica de um Lutero na religião, um Miguel Ângelo nas artes ou Voltaire na filosofia, ou um Kepler na astronomia, ou porque não um Nobel na Industria. Certo que no século XX a nossa literatura produziu dois dos maiores vultos na área da escrita e da filosofia, Pessoa e Agostinho da Silva mas nem um nem outro são sobejamente conhecidos mundialmente para fazer deles vultos universais. Infelizmente.
E é aqui que quero realçar primeiro a figura (ou figuras) de Fernando Pessoa. Pessoa é sem dúvida o mais prolífero e talentosos escritor e pensador português de todos os tempos, mais do que Camões sem sombra de dúvida, e se retirarmos o mundo lusófono e alguns meios académicos europeus ligados ao estudo da língua portuguesa mais ninguém tem conhecimento da grandiosa obra de Fernando Pessoa.
Portugal no seu todo e ao longo da sua longa história tem vindo a recusar aos seus maiores cidadãos o lugar de relevo que verdadeiramente merecem no pódio dos grandes vultos internacionais. Não tenho a menor dúvida de que se a obra de Pessoa, ou o patrocínio da sua tradução e principalmente a sua divulgação para as mais faladas línguas que não o português colocaria este escritor ao nível de um Shakespeare ou Cervantes. Muitos referem que Kafka é o escritor de Praga e Pessoa o escritor de Lisboa, porquê um ser universalmente conhecido e o outro não? Certamente não o será por falta de originalidade, quantidade (Kafka ficaria muito atrás) ou qualidade e diversidade da obra.
Ou o que dizer do grande pensador e filósofo Agostinho da Silva, que viveu em Portugal e no Brasil e cuja vasta obra apenas é (mal) conhecida nestes dois países? O pensamento de Agostinho da Silva seria sem dúvida nestes tempos de falta de ideias originais e alternativas, um grande contribuidor para uma nova abordagem da sociedade em que vivemos e sobrevivemos e para a educação dos jovens que neste momento não têm rumo na sociedade.
Portugal, no muito que contribuiu para o desenvolvimento da humanidade no século XV na área da navegação, deveria ter iniciado o salutar hábito, tendo em conta a riqueza que acumulou nessa época áurea, de incentivar e divulgar os seus melhores filhos. Infelizmente não o fez. Por isso não tivemos um Miguel Ângelo,  um Kepler, um Bach, um Newton, um Descartes, um Chopin, um Pitágoras. Por isso a relevância de Portugal no mundo cultural actual ser tão pequena, e o nosso turismo internacional (o maior exportador nacional) se resumir na sua maioria às praias do Algarve. E o mundo fica mais pobre por não conhecer aqueles portugueses que com toda a certeza deveriam fazer parte dos grandes que mudaram o rumo da História e aqueles que o nunca chegaram a fazer por falta de visão de gerações e gerações de gente tacanha, egoísta e invejosa.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O FIM DO MUNDO


Afinal o fim do mundo sempre foi dia 21 de Maio, diz o profeta Harold Camping; o que aconteceu foi um julgamento espiritual do Mundo! Este julgamento deve com certeza ter sido feito num qualquer tribunal português. Como o da Casa Pia. Como o do sucateiro. Como o do Freeport. Como os de cobrança de dividas que levam 18 meses (se o Zéfiro estiver de feição e emprenhar as éguas lusitanas). 

 
Camping  já se enganou antes… e enganou-se de novo. A matemática não deve ser o seu forte. Ele próprio afirmou que se enganou nos cálculos. Talvez se se candidatar ao programa “Novas Oportunidades” Camping se redima e nos apresente novas datas. Ainda bem que ele não previu que o Sócrates vai perder as próximas eleições…

O profeta Harold Camping deveria ir viver para Portugal uns meses (quando se candidatar ao programa “Novas Oportunidades”)  e aguentar-se com o ordenado mínimo, IVA a 23%, governantes incompetentes, soberbos e ufanos, uma divida pessoal de 120% do ordenado, combustiveis que só sobem de preço  (mesmo que os mercados caiam a pique), o FMI a morder as canelas, sinalização rodoviária aleatória, pessoas sem o mínimo sentido de civismo (eu chamar-lhe-ia puro egoísmo), aí sim ele iria ver o que seria o fim-do mundo. O Armagedon ao pé de Portugal é uma brincadeira de crianças. É por isso que os portugueses encaram estes profetas do Apocalipse com um sorriso… e seguem em frente. Francamente, é preciso ter lata.

Nenhum dos profetas que li acertaram nas previsões, nem Jesus que previu o fim do mundo antes do final da sua geração em Mateus 24 acertou, quanto mais… Harold Camping. Bah!


Deixo aqui uma citação de António Aleixo:
"Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo. "

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tecnologicamente Apolíticos

Nestes tempos difíceis onde a perda de direitos adquiridos, por força de uma mão cheia de gananciosos e pela ignorância da maioria que não sabia onde se estava a meter quando lhes ofereceram crédito barato, está na ordem do dia, onde o chamado fosso entre ricos e pobres é cada vez maior e onde os impostos que deveriam ser canalizados para o bem-estar social  estão a ser usados para pagar má gestão de políticos e bancários, é notório o desagrado por parte de vários setores da sociedade (em especial a classe média pagadora e pouco beneficiada) com tudo isto.
Nos idos tempos do império romano o pão e o vinho eram subsidiados,  assim como os divertimentos públicos (o circo e as corridas) eram patrocinados pelo imperador e por altos políticos e militares, não por causa  da sua veia benfeitora  mas pela mais elementar regra da política (que curiosamente vem desses tempos e ainda é válida): manter a populaça distraída e apática relativamente aos assuntos políticos (a religião era outra formula bem sucedida mas que tem vindo a perder peso no ocidente ultimamente).
 Nos tempos modernos os políticos e a industria “têm-nos oferecido” como distração o futebol, as festas populares, a eletrónica barata (apesar do alto preço pago em deslocalizações e divida) , vinda de países de mão –de-obra semi-escravizada, as novelas, a internet, etc. Reparem como a apatia nos países ocidentais impera quando as pessoas são confrontadas com as mais aberrantes situações económicas que mais tarde irão contribuir para a perda de direitos (não de deveres) dos cidadãos. Uma dessas consequências é a perda do direito à educação, a outra o direito à saúde entre outros inúmeros direitos adquiridos ao longo da história.  Essa apatia advém da forma como nos deixámos envolver em “mimos” de tecnologia barata; eletrónica, internet, redes sociais que mais não fazem do que adormecer a vontade de mudança, a vontade de contestar ativamente, etc. Certo que (por enquanto) essas mesmas redes sociais podem e já foram usadas para começar revoluções (Egito e Tunísia). No entanto o ingrediente chave que incendiou a revolta foi a total falta de direitos dos cidadãos. E é neste ponto que assenta toda esta nova vaga de políticas aberrantes que em alguns países (o Reino Unido é um exemplo) já se começa a sentir. E é aqui que eu acho que reside a chave deste imbróglio em que os países ocidentais se meteram.
Durante esta década iremos assistir a constantes perdas de direitos por parte dos cidadãos, perdas que nos farão regredir pelo menos cinquenta anos e que alargarão ainda mais o tal fosso entre os (cada vez mais) pobres e os super-ricos, uma nova classe criada durante estes tempos de neo-liberalismo desenfreado e irresponsável que nos trouxe a este estado de coisas. Tal como no Império romano, quando a falta de pão e vinho começaram a fazer sentir os seus efeitos , os cidadãos revoltaram-se, e os murmúrios passaram a ações e as ações tornaram-se violentas. Os políticos desta década terão de se acautelar e muito. Em Inglaterra por exemplo, o sistema de ensino superior, depois das reformas impostas pela coligação (Conservadores- Liberais Democratas) que entrarão em vigor no ano letivo 2012-2013, irá tornar-se cada vez mais um ensino elitista onde apenas as famílias com altos rendimentos poderão colocar os filhos a estudar. No entanto, o desemprego continua a crescer, tal como a inflação, os combustiveis, o IVA, etc. A concorrência por cada posto de trabalho é cada vez mais aguerrida. Os subsídios (desemprego, maternidade, deficientes, etc.) estão a minguar, já se fala em privatizar o serviço nacional de saúde (ou pelo menos este competir com privados), uma das maiores vitórias do povo britânico.
São de temer as consequências de todas estas políticas; a frustração leva ao desespero que leva a atos tresloucados, ao crime, à violência, aos extremismos, aos bodes expiatórios, às atrocidades. E isto vai acontecer no dia em que as gerações de jovens que hoje vivem constantemente agarrados aos computadores, internet, redes sociais, telemóveis, televisões, etc. e politicamente apáticos ficarem sem os mesmos. Antes até de ficarem sem pão.

sábado, 26 de março de 2011

O Declínio do Ocidente.

A iminente queda da civilização ocidental.

Há dias vi um interessantíssimo documentário da BBC sobre o renascimento do Oriente e particularmente da China, o dragão adormecido. Tal com o mítico animal medieval, a China tem queimado mercado atrás de mercado com a sua mão-de-obra-barata, ética de trabalho árduo e um rapidíssimo “catch-up” tecnológico em relação ao “Ocidente”. E isto tudo produzido apenas na faixa litoral deste imenso pais, dado que o mercado interno nas províncias interiores ainda está “por desbravar”. Certo que este desenvolvimento tem tido custos imensos, especialmente nas “sweat-shops”, nas falhas de direitos dos cidadãos, mas afinal um império não se constrói sem sacrifícios, se bem se lembram, foi assim que o Reino Unido construiu o seu nos séculos XVIII e XIX com a ajuda da revolução industrial que veio impulsionar a tecnologia, mas também criou muita miséria humana e injustiças. No entanto, este império já não é novo, lembre-mo-nos que existe há mais de 4.000 anos e até há cerca de quinhentos anos atrás, a China seria provavelmente o país mais avançado do mundo, com cidades bem planeadas que fariam corar de vergonha as grandes metrópoles europeias da época. No entanto, depois de séculos de desenvolvimento tecnológico, e especialmente depois do Imperador Zeng He (dinastia Ming) ter estimulado as artes e a cultura e também as viagens marítimas de descobrimento de novos mercados (não foram só os portugueses), e diz-se que chegaram ‘a costa ocidental americana. Depois de uma série de revoltas e contra-revoltas a dinastia Qing (sucessora da Ming) fechou-se em copas e tornou-se defensiva, virada para dentro e vindo a perder a influencia externa que ate aqui tinha tido no Oriente. Chegam os ocidentais e o pais ainda mais defensivo se torna, e mais fechado. Este período durou cerca de 500 anos, com a balança de influencias de um mundo cada vez mais pequeno, para a civilização ocidental euro-americana. 

Como em tudo nesta vida, os impérios vão e voltam e neste momento sente-se o ressurgimento do velho dragão chinês que está a inverter as influencias económicas mundiais. Lembro-me bem de ler um livro que havia nas estantes de casa dos meus pais cujo titulo era: “Quando a China Despertar (o mundo tremerá)”.  E é aqui no Império do Meio  o epicentro da crise económica ocidental que cada vez mais se agudiza. Se não vejamos, tudo começou com produtos de baixa tecnologia e relativamente simples há cerca de 20 anos atrás. Depois foram os têxteis e o calcado há cerca de 10 anos e mais recentemente tem sido a industria eletrónica. Daqui para a frente serão as industrias de alta tecnologia e tecnologia de ponta (automóveis, aeroespacial, microeletronica, etc.) que vão ser dominadas pela China. E a desolação sente-se por todo o mundo ocidental; fábricas que fecham, dos Estado Unidos ‘a Polónia, cidades inteiras abandonadas por falta de trabalho (Detroit já é um exemplo disso). A pressão sobre os recursos naturais também é cada vez maior: mais petróleo, minerais, e matérias-primas estão a ser disputadas pela China e outros países em desenvolvimento, fazendo aumentar o preço dos mesmos nos mercados mundiais (dominados até aqui pelo Ocidente). Quando uma matéria prima é necessária na China, os mercados secam completamente, fazendo dispara os preços, tal como aconteceu com o aço há alguns anos atrás. É esta “revolução industrial” que está a enriquecer a China. A China é já um dos maiores emprestadores de dinheiro a nível mundial, ultrapassando o Japao e os Estado Unidos. Pensem nisso quando voltarem a desdenhar dos chineses, ou a contar anedotas jocosas sobre os mesmos. O que se está a passar neste momento é uma guerra económica e a balança volta a pender para o Império do Meio. 

E o Ocidente? O resultado de tudo isto é o empobrecimento do Ocidente. Um Ocidente que foi (ainda é) o centro cultural do mundo e que tal como aqueles velhos aristocratas falidos dá-se aparências de rico, mas tem de pedir emprestado aos seus serviçais. Endividou-se demasiado, enredou-se em jogos de azar que só aceleraram a sua já previsível queda. Tal como a China há 500 anos atrás, é de esperar revoltas, sangrentas ou não, convulsões e um período de austeridade económica que nos ira fazer regredir pelo menos cinquenta anos, um fechar de portas para o resto do mundo (o oriente neste caso), provavelmente futuras humilhações políticas e militares e quiçá quinhentos anos de isolamento.  O que se passa nos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) irá alastrar-se provavelmente ao Reino Unido, Itália e outros. Os Estado Unidos ainda não estão de joelhos, mas pouco falta. As necessárias contenções fiscais que irão durar décadas, vão apenas acelerar o empobrecimento do ocidente, se não vejamos, desinvestimento na educação, ciências e tecnologia, financiamento da economia cada vez mais dificil, irão estagnar o nosso desenvolvimento e mergulhar o “Ocidente” novamente numa era de “trevas” da qual dificilmente sairemos. Alguns poderão contra-argumentar que sem o mercado “ocidental” a China não poderá vender os seus produtos. Quanto a isso eu respondo 1) A China tem uma visão da economia a muito longo prazo (ao contrario de nos ocidentais) 2) Existem mais países grandes em desenvolvimento (BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China) com mercados ainda relativamente imaturos. 3) O mercado interno chinês ainda não está totalmente coberto, existindo largas faixas de território ainda com níveis de vida equivalentes aos do Paquistão, e com populações igualmente grandes, portanto se mais nada resultar, o mercado interno tem capacidade de absorver toda a produção nacional. E finalmente 4) África. A China é cada vez mais “a” potencia influente em muitos países africanos onde tem interesses extrativos e industriais instalados. E a sua filosofia de exploração de recursos naturais é muito diferente da ocidental. A China não está interessada em expandir territórios, e sim em expandir influencias, e para isso apresenta melhores propostas de negócios aos seus parceiros. Possivelmente propostas menos desonestas do que as do “ocidente”. 

Por tudo isto creio que estamos no começo do fim de um período que durou cerca de meio milhar de anos, quando um pequeno país do Sudoeste da Europa abriu as fronteiras do mundo e encurtou a distancia entre o “ocidente” e o “oriente”. E o resto é História.

domingo, 20 de março de 2011

Da Era do Consumismo 'a Era da Estupidez

Numa era de incerteza económica como aquela em que vivemos atualmente, muitos, se não todos encaramos o nosso futuro com muita apreensão. 

De uma coisa podemos ter a certeza, não iremos ter as perspetivas de carreira num emprego seguro, como  até agora tem sido mais ou menos a norma e como o foi certamente para a geração dos nossos pais e avós . Teremos de aprender a ser  com “free-lancers” do nosso trabalho e das nossas capacidades e teremos de arriscar mais do que até aqui. Isso implicará sairmos da nossa zona de conforto e irmos ‘a luta. Muitos de nós tiveram a sorte de poder aceder ao ensino superior. Cujas   oportunidades num mercado de trabalho normal (eu sublinho, normal) serão teoricamente maiores do que para aqueles sem “canudo”.
A minha experiência de Reino Unido (onde os direitos adquiridos são menores do que por exemplo em Portugal) diz-me que em tempos de prosperidade económica a facilidade de sair de um trabalho que não se gosta para outro é muito grande. Para contrariar isto, as empresas tentam oferecer contrapartidas como treinamento, bónus, PPRs, etc. para manter os seus funcionários  e evitar altos índices de rotatividade de trabalhadores, porque isso acarreta custos administrativos muito altos. Com isto mantém-se o desemprego em níveis baixos. 

Diz-se ‘a boca pequena que os conselheiros especiais deste governo de coligação tem em média 28 anos de idade, onde o normal seria terem 28 anos de carreira. Os “civil servants” ingleses (aqueles que antigamente usavam chapéu de coco na City) são dos cargos públicos mais respeitados no Reino Unido (os titulares sobem por mérito na Função Pública até diretores-gerais) e muitos detém mais poder que os ministros, são muitas vezes quem lhes consegue dar a volta para aplicar medidas mais racionais do que a “boa vontade” política muitas vezes quer fazer. Na famosa série cómica “Sim Senhor Ministro” muito popular nos anos 80 e baseada muito certamente em alguns factos reais, quando o ministro vinha com ideias mirabolantes o diretor-geral respondia dizendo “isso é uma medida muito corajosa” (querendo dizer muito diplomaticamente, estúpida). O ministro que já conhecia este protocolo dos funcionários públicos, respondia “então qual é a sua opiniao?”  E o diretor –geral então faria o ministro mudar de ideias com a ajuda do conselheiro especial. O que se passa hoje no governo de coligação é o seguinte “isso é uma medida muito corajosa sr ministro”. “Acha sr diretor-geral? Então aplique-se”. 

No entanto, estes tempos de crise são diferentes de todas as outras crises anteriores. Neste momento temos um governo que apenas sabe que tem de cortar a divida. Mas não faz a mínima ideia de como, as tais ideias “corajosas”. Sem conselheiros especiais experientes e ministros estúpidos,  apenas dispara que os diferentes sectores tem de cortar as verbas que recebem do governo para orçamentação. E espera sossegado que o pânico se instale, os sectores públicos cortem onde é necessário (mas completamente ‘as cegas) e depois espera que a poeira assente e aí sim envia as diretivas aos departamentos. Esta lógica “mercantilista” do Estado irá corroer a sociedade e retarda-la em cinquenta anos. Voltaremos de novo ‘a falta de oportunidades para os mais desfavorecidos que continuaram a ser cada vez mais desfavorecidos e as desigualdades a aumentar. No fim da reforma do ensino superior as famílias terão de endividar-se em cerca de £20,000 para colocar os seus filhos na Universidade. Se não vejamos, as propinas irão subir para um máximo de £9,000 (as universidades de topo já disseram que vão cobrar o máximo). As outras, terão de adivinhar um valor e torcer para que seja concorrencial com outras universidades similares. Um valor muito baixo e as contas ficarão no vermelho, um valor muito alto, e os estudantes fugirão para universidades mais “baratas”. A expectativa é a de que os valores ficarão pela casa das £7,500-£8,000/ano. Mas se a Universidade A oferecer o mesmo curso por menos £200/ano, que a Universidade B que apenas dista 10 KM de distancia, estão a ver o resultado. Depois vem o alojamento. Em Londres poderá ir até cerca das £160/semana. Em Manchester, p.ex andará pelas £60-70/semana. Optar por Manchester poupará um ano de propinas quando comparado com Londres. E se o aluno por mérito quiser continuar com um Mestrado? Mais  £15,000-20,000/ano a acrescentar ‘a sua divida de £24-27,000 fora despesas de manutenção (alojamento, comida, etc.). Facilmente uma família ou um aluno ficará com uma divida de £50,000 antes de começar a trabalhar. E as famílias com dois ou três filhos a estudar no Ensino superior ao mesmo tempo? Incomportável. Voltamos aos tempos antigos onde as famílias terão de escolher apenas um dos filhos para ir estudar, enquanto que os outros terão de ir trabalhar, mesmo que sejam bons alunos. Eu ouvi da boca de um reitor dizer que reformas como esta que deveriam levar 10 a 15 anos a completar, estão a levar cinco a sete.

Para o Reino Unido a Educação Superior está como o Turismo para Portugal. É um sector extremamente importante e estratégico não só porque produz cientistas e profissionais acreditados no mundo inteiro, mas porque é visto como um dos melhores do mundo. A população estudantil estrangeira no reino Unido será de 50 a 60% do total, e isto representa bastante dinheiro para os cofres públicos e das Universidades, até porque os alunos fora da União Europeia já pagam o dobro em propinas do que os nacionais (EU incluida).

Em tempos onde o endividamento já está a ser um problema dentro e fora da União Europeia, é fácil adivinhar o resultado destas “corajosas” medidas.

terça-feira, 8 de março de 2011

Synecdoche, New York. Muito provavelmente o filme da minha vida.

Já alguma vez viu um filme ou leu um livro que assenta como uma luva na sua vida? Se até aqui tinha "O Amor em Tempos de Cólera" como o meu livro favorito, que retrata a vida de um homem cujo objectivo maior era o de voltar a ter a única mulher que sempre amou e logo, o controlo da sua própria vida; pelas razoes exactamente opostas Synechdoque, New York passou a ser o meu filme favorito.

A fantástica história de Caden Cotard, um director teatral que perdeu o rumo da sua vida, vivendo cronologicamente desorientado, fisicamente em decadencia, e angustiosamente  a tentar controlar o seu destino no dia em que a sua esposa, uma artista plástica o deixa para ir viver para Berlim.
Esta é a linha de charneira do filme: o momento em que Adele parte para Berlim com a filha do casal. A partir daqui é o descontrolo emocional, físico e temporal de Caden, a quem mais tarde é  atribuído um prémio  teatral monetário que é totalmente investido numa peca de teatro replicando a sua vida ‘a escala real, na cidade de Nova York dentro de um velho armazém, numa frustrada tentativa de voltar a controlar o rumo perdido da sua vida.
As analogias e as relações sucedem-se, a casa da amante de Caden sempre em chamas, os quadros miniatura de Adele em Berlim cada vez mais pequenos ao mesmo tempo que o armazém em Nova York se torna cada vez maior. As relações frustradas com outras mulheres, a contratação para fazer o papel de Caden na peca, de um homem que o persegue há dezassete anos e que o compreende melhor do que ninguém. Algum Jungianismo aqui com uma pitada de Hegel. Tudo ‘a volta da ilusão de um dia voltar a ver Adele.
No fundo um filme que se dedica ao “e se…” E se eu tivesse escolhido um caminho em vez de outro o que seria a minha vida? E se eu tivesse tomado uma decisão diferente o que teria acontecido? No fundo o filme nos mostra que apenas temos controlo decisório sobre as nossas vidas nos momentos em que somos confrontados com encruzilhadas (as chamadas encruzilhadas da vida, que muitos poetas já dedicaram inúmeros versos). Uma vez escolhido o caminho, certo ou errado, não há volta a dar, perdemos o controlo e temos de aguentar com o resultado das nossas decisões. Muitas vezes parece que a nossa vida é um sonho dentro de um sonho, e apesar de estar dentro da nossa mente, não o conseguimos controlar, o filme com certeza que o é.

Tal como Caden, também já olhei muitas vezes para trás e pensei em voltar a tomar o controlo das decisões que tomei (ou que não tomei); voltar atrás e decidir diferente. Tentar imaginar o que seria a minha vida se… Este filme mostrou-me que é inútil. Também não tenho o controlo do rumo da minha vida como desejaria, viajo por ela como se num barco a descer um rio ao sabor da corrente e olhar a paisagem e as pessoas a mudar ‘a minha volta. Tentar alterar isso (voltar para trás e apanhar o outro barco) apenas tem adicionado infelicidade ‘a minha existência (armazéns por cima de armazéns a replicar o que nunca foi).
Saborear a paisagem que se vai abrindo, mesmo que por vezes escura e medonha, é algo que se aprende com o tempo e com as feridas da vida. Afinal, como diz o padre no monólogo do funeral  da peca de teatro de Caden e que no fundo resume o filme e as nossas vidas (http://www.youtube.com/watch?v=Z9PzSNy3xj0): de todo o tempo que passamos  na Terra, na maior parte dele ou estamos mortos ou ainda não nascemos. E apenas vivemos uma fracção de segundo. Para quê desperdiçar o nosso tempo ‘a espera daquilo que nunca vem? Da promessa, do telefonema, da carta, do email, para depois vivermos ressentidos e tristes e angustiados.   

Afinal o destino existe, mas somos nós que o fazemos. Há filmes que nos assentam como uma luva. Este assentou-me perfeitamente.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Do meu livro favorito

“Com ela aprendeu Florentino Ariza o que já padecera muitas vezes sem saber: pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma. Solitário entre a multidão do cais, dissera a si mesmo com um toque de raiva: ‘O coração tem mais quartos que uma pensão de putas.' Estava banhado em lágrimas com a dor dos adeuses. Contudo, mal desaparecera o navio na linha do horizonte e a lembrança de Fermina Daza tinha voltado a ocupar seu espaço total.”

trecho de O Amor nos Tempos do Cólera
Gabriel Garcia Marquez

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cameron e a Big Society


O primeiro-ministro David Cameron nunca me convenceu nas suas intenções antes da eleições, e os meus piores receios (que ele fosse um primeiro-ministro ao estilo português) começam a tornar-se realidade.
Quando alguém diz que tem uma ideia de criar uma “Grande Sociedade” ou “Big Society” como Cameron lhe chama dizendo que quer devolver o poder ‘as autoridades locais é de desconfiar, principalmente vindo de um Tory. Mas o pior nisto é como a coisa esta a ser dirigida e apresentada (como se fossemos todos burrinhos ou com 5 anos de idade).
Como é que alguém pode ter a desfaçatez de querer devolver o poder local aos municípios e ao mesmo tempo corta os fundos aos ditos. Neste momento estão em perigo de fechar por todo os pais milhares de bibliotecas, ginásios, centros de dia, etc. devido aos cortes anunciados. Só em Liverpool (um dos municípios mais pobres e com uma das maiores taxas de desemprego no Reino Unido) vão ser cortados £91 milhões.
Cameron tem incentivado a população a fazer trabalho comunitário, ou por outras palavras, se quiserem as bibliotecas abertas trabalhem de graça e não se queixem, num clima em que o IVA aumentou para 20%, os números do desemprego continuam a subir e os jovens licenciados não encontram trabalho (meu Deus eu já vi este filme), os combustíveis aumentam diariamente e ainda querem adicionar uma sobre-taxa ao imposto sobre combustíveis em Abril, a inflação já vai nos 4%, para o ano que vem são os cortes nas universidades com os tectos das propinas de £3,500 para £9,000 anuais, e os inevitáveis encerramentos de  cursos, especialmente nas Universidades mais pequenas cujos alunos vem de famílias com poucos rendimentos (ao contrario dos meninos de Ox-Bridge como Cameron e toda a escumalha Tory). O ministro das Finanças (outro menino do papá) afirmou que estamos todos juntos nisto pouco tempo antes de ter ido passar umas ferias de Natal de £7,000 num resort de luxo na Suíça e de se saber que as suas empresas estão todas sediadas em off-shores.
O resultado será o fim da mobilidade social iniciada nos anos 60 num pais que ainda subtilmente é dividido em três classes, uma clique de governantes filhos de papás (estupidamente) ricos saídos de Ox-Bridge, um povo que vai voltar a condições de trabalho muito semelhantes ‘as da revolução industrial (se bem que sem a fuligem), o fim da “classe média” e um fosso cada vez maior entre ricos e pobres ( meu Deus eu já vi este filme).
Na melhor das hipóteses nas próximas eleições legislativas os Britânicos voltam para os trabalhistas de novo (um mal menor). Nos tempos da “Maggie Thatcher”, de tão má memória, o trauma foi de tal modo grande devido ‘as vagas de desemprego que gerou, que desde então, na Escócia os Tories não elegem nem um deputado. Obstinados, estes Escoceses.
Se Portugal precisa já de uma revolução, o Reino Unido precisa de uma reviravolta muito grande (porque aqui não há memória de revoluções) para tirar de lá este fantoche que vai enterrar o resto deste pais no lamaçal.