Foto: Ricardo Silva |
1 Fiz-me Zéfiro pela
madrugada. Na bruma levantada do mar oceano procurei minha amada. Nos nichos
das falésias e nas dunas das ocidentais praias da vetusta Lusitânia a busquei.
2 Sonhando contemplá-la,
fustiguei as verdes planícies fazendo gritar os montes e, levantando vendavais
nos campos da cor do limão, almejei outrossim descobrir seu formoso corpo
desnudo.
3 Abri de par em
par as portas das moradas do Endovélico clamando por ela. Anunciaram que se
refugia nos Montes da Lua, por entre nevoeiros espessos e pinhais de fantasmas.
4 Oh assombração
dos meus secretos desejos! És veloz como as éguas lusitanas. Esquiva como as
enguias dos riachos. Mansa como a ovelha bordalesa. Furtiva como as lobas dos
montes de Hermes.
5 Escondes-te por
entre amontoados de conchas, nos silêncios dos pores-do-sol junto do mar occíduo
que se enche da fragrância do astro-rei e perfumes delicados te cercam, oh arca
sagrada onde deuses comungam e se perdem na tua beleza.
6 Nos bazares e
empórios perscrutas novidades de terras distantes, procuras nos aromas
almiscares recordações de antanho e nas epístolas que vêm de longe paradeiros
secretos, novas do teu amigo.
7 Sacudi vossas
ramagens oh copas dos carvalhos! Estremecei portais dos templos! Fendei-vos com
estrondo altissonante cinéreos granitos! Calai-vos águas dos rios à minha
chegada! Vim buscar aquela que me espera, oculta em jardins limianos, coberta
de véus de solidão!
8 Pela aurora
protegido, arrebatá-la-ei do seu leito de sono e cobri-la-ei de crisântemos. Partirá
comigo para o oriente, onde meus olhos doentes anseiam pelos seus! Será rainha
desse meu país por inaugurar; de amor, ternura e madrugadas.
©
2016 Alexandre Alves-Rodrigues