Nestes tempos difíceis onde a perda de direitos adquiridos, por força de uma mão cheia de gananciosos e pela ignorância da maioria que não sabia onde se estava a meter quando lhes ofereceram crédito barato, está na ordem do dia, onde o chamado fosso entre ricos e pobres é cada vez maior e onde os impostos que deveriam ser canalizados para o bem-estar social estão a ser usados para pagar má gestão de políticos e bancários, é notório o desagrado por parte de vários setores da sociedade (em especial a classe média pagadora e pouco beneficiada) com tudo isto.
Nos idos tempos do império romano o pão e o vinho eram subsidiados, assim como os divertimentos públicos (o circo e as corridas) eram patrocinados pelo imperador e por altos políticos e militares, não por causa da sua veia benfeitora mas pela mais elementar regra da política (que curiosamente vem desses tempos e ainda é válida): manter a populaça distraída e apática relativamente aos assuntos políticos (a religião era outra formula bem sucedida mas que tem vindo a perder peso no ocidente ultimamente).
Nos tempos modernos os políticos e a industria “têm-nos oferecido” como distração o futebol, as festas populares, a eletrónica barata (apesar do alto preço pago em deslocalizações e divida) , vinda de países de mão –de-obra semi-escravizada, as novelas, a internet, etc. Reparem como a apatia nos países ocidentais impera quando as pessoas são confrontadas com as mais aberrantes situações económicas que mais tarde irão contribuir para a perda de direitos (não de deveres) dos cidadãos. Uma dessas consequências é a perda do direito à educação, a outra o direito à saúde entre outros inúmeros direitos adquiridos ao longo da história. Essa apatia advém da forma como nos deixámos envolver em “mimos” de tecnologia barata; eletrónica, internet, redes sociais que mais não fazem do que adormecer a vontade de mudança, a vontade de contestar ativamente, etc. Certo que (por enquanto) essas mesmas redes sociais podem e já foram usadas para começar revoluções (Egito e Tunísia). No entanto o ingrediente chave que incendiou a revolta foi a total falta de direitos dos cidadãos. E é neste ponto que assenta toda esta nova vaga de políticas aberrantes que em alguns países (o Reino Unido é um exemplo) já se começa a sentir. E é aqui que eu acho que reside a chave deste imbróglio em que os países ocidentais se meteram.
Durante esta década iremos assistir a constantes perdas de direitos por parte dos cidadãos, perdas que nos farão regredir pelo menos cinquenta anos e que alargarão ainda mais o tal fosso entre os (cada vez mais) pobres e os super-ricos, uma nova classe criada durante estes tempos de neo-liberalismo desenfreado e irresponsável que nos trouxe a este estado de coisas. Tal como no Império romano, quando a falta de pão e vinho começaram a fazer sentir os seus efeitos , os cidadãos revoltaram-se, e os murmúrios passaram a ações e as ações tornaram-se violentas. Os políticos desta década terão de se acautelar e muito. Em Inglaterra por exemplo, o sistema de ensino superior, depois das reformas impostas pela coligação (Conservadores- Liberais Democratas) que entrarão em vigor no ano letivo 2012-2013, irá tornar-se cada vez mais um ensino elitista onde apenas as famílias com altos rendimentos poderão colocar os filhos a estudar. No entanto, o desemprego continua a crescer, tal como a inflação, os combustiveis, o IVA, etc. A concorrência por cada posto de trabalho é cada vez mais aguerrida. Os subsídios (desemprego, maternidade, deficientes, etc.) estão a minguar, já se fala em privatizar o serviço nacional de saúde (ou pelo menos este competir com privados), uma das maiores vitórias do povo britânico.
São de temer as consequências de todas estas políticas; a frustração leva ao desespero que leva a atos tresloucados, ao crime, à violência, aos extremismos, aos bodes expiatórios, às atrocidades. E isto vai acontecer no dia em que as gerações de jovens que hoje vivem constantemente agarrados aos computadores, internet, redes sociais, telemóveis, televisões, etc. e politicamente apáticos ficarem sem os mesmos. Antes até de ficarem sem pão.