Gosto
de ler blogues de poesia. Mas gosto de um certo blogue em particular. Porque
fala para mim como se fosses tu, enfeitiçada, a falar para mim. Ou como eu te
imagino se tu me falasses em prosa ou em verso, por palavras tuas ou de outros
poetas. Imagino-te enviando-me mensagens encriptadas em versos, ou prosas sobre
amores eternos que só eu saberei descodificar no meio da sua mensagem
universal. E imagino-te sentada a escrever e a pesquisar as palavas certas com
que me baleasses o coração, ou que me fizessem despertar deste transe esquisito
em que me encontro. Mas sei que não. Tu não escreves blogues nem poesia, porque
não deves ter tempo para isso. E se calhar nem temperamento ou veia poética. Nem
estás enfeitiçada. Tu és tu, com a tua vida, as rotinas com que te ocupas para
não ocupares a mente comigo. Vá, vai lá à tua vida. Eu fico aqui na minha, a
imaginar-te escritora de sentimentos transbordantes, de quimeras, de amores
enquanto bebo mais um trago e oiço a música que me faz lembrar de ti, ou
melhor, música de sonhos por cumprir, de utopias, quimeras. As minhas quimeras,
esta idiossincrasia de tentar esquecer, e com isso não conseguir esquecer nem
apagar da memória a memória que tenho de ti. E ando nisto dias seguidos, em
transe melancólico quase lúcido, alimentado por este duplo céu cinzento, de
frio até aos ossos sem vento nem murmúrio de árvores, esta quietude, espécie de
prenúncio de terramoto, sem terramoto mas com cheiro de flores murchas e de
morte. De outonais esperanças tão vãs quanto eu, tão vãs como eu a imaginar-te
a escrever blogues de poesia.
©2013
Alexandre Alves-Rodrigues
Sunrise at Arrábida © 2013 Ricardo Silva |