Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014






Uma metáfora que dura muito tempo leva a dizer disparates como este.
Adília Lopes, O Poeta de Pondichéry.


   Sei que sentes culpa no arrepio da pele e no escuro da noite. No teu discurso transpira, pálida, estranha e remota, a culpa que trazes desde a infância. Não sei porque a trazes contigo. Mas sei que sentes culpa por tudo o que fazes,o que fizeste, pelo que ainda será feito, e ainda não é obra nem pensamento de deuses ou de homens. No entanto deves a vida que tens à culpa, aquela que te persegue na rua, no trabalho, em casa, no bolo que comes no café, no exercício físico que praticas, no amor que fazes, no subir e no descer, no ir e vir das marés. Sentes culpa por querer deixar a culpa que sentes para trás.


   Tal como, se não te tivesse conhecido, escreveria poesia diferente da que escrevo, ou seja não escreveria coisa nenhuma. E não sentiria culpa por isso, nem por te ter conhecido, nem por me ter feito desconhecido de ti, ou por não te ter esquecido tentando esquecer-te todos os dias. Como cavalheiro que sou abraço naturalmente as causas perdidas. Vivi toda a vida em função de uma culpa da qual sou alheio, mas cujo peso me obrigou a partir para um exílio de chuvas, e que, se alguma coisa fez, foi obrigar-me a escrever poemas que não gosto e a tentar fazer fortuna, mais por raiva que por amor.

©2014 Alexandre Alves-Rodrigues

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentadores de bancada