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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Manhã de nevoeiro



                   
São estas as manhãs de nevoeiro, as que me acordam e fazem-me sentir nostálgico. A janela grande de sacada, traz-me de longe uma luz meridional antiga, que irrompe de mansinho, penetrando nuvens, fogo e água. 

São estas as manhãs onde de repente nos apercebemos que o tempo foge, que somos limitados e limitantes. Que não somos imortais, nem aqui ou em lado algum, presente ou futuro. Não temos dono, nem algoz. Somos parte de um mesmo universo.

O Sol ilumina as árvores, neste Setembro outonal, de luz oblíqua e sombras alongadas, dourando ainda mais as folhas caídas. E o orvalho matinal cobre de humidade o que resta do verde dos dias quentes. 

O universo recicla-se nesta escala tão pequena quanto limitada. Afinal somos poeira de estrelas, infinitamente reciclada, construída e destruída a uma escala tão atómica quanto gigantesca, inimaginável. 

E é sob esta luz diáfana e filtrada pelo nevoeiro que aprendemos a vida. E a reconhecer que somos limitados, em força e tempo. A vida que conhecemos tem de ser aproveitada, tem de ser útil. Mesmo que isso pareça o contrário aos olhos de todos. Somos donos do nosso próprio destino, do nosso paraíso. E do nosso inferno.

 Temos de nos realizar pessoalmente antes que seja tarde demais. Antes que o tempo apague a nossa frágil memória e o pó das centúrias apague a nossa memória das memórias futuras. O vento sopra nas árvores e as folhas caem. No chão desfazem-se em poeira, serão nova vida, novos elementos, nova matéria. Os mesmos átomos. São assim, as minhas manhãs de nevoeiro.


© 2014 Alexandre Alves-Rodrigues

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