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sexta-feira, 2 de março de 2012

Soluções para Portugal. A Teoria da Motivação.

Soluções para Portugal. A Teoria da Motivação.
Muito se tem falado e criticado acerca da corrente situação económica em Portugal, das suas origens, dos perpetradores de negociatas ruinosas, do problema cultural e de mentalidade português, de tudo e mais alguma coisa. E não raras vezes vozes se têm levantado a exigir soluções, a demandar o fim de tanta critica – vamos mas é trabalhar, comprar produtos portugueses e outras soluções coladas a cuspo que no meio desta global crise pouco ou nenhum efeito suscitam. Diz o velho ditado; em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. A Europa é em geral uma casa sem pão. Invariavelmente, nestas alturas de crise, aparecem sempre uns "espertalhões" a atirar “postas de pescada”, sejam alemães, portugueses, ingleses ou italianos. E regra geral culpam sempre os vizinhos pelo facto de não haver pão. E o vizinho pode ser o imigrante da porta ao lado, o governo, outro país, outro continente. Bodes expiatórios, no fundo. Quando afinal todos somos culpados da situação em que nos encontramos. Os alemães porque fazem negociatas escuras para vender submarinos e comboios, por um lado; os portugueses porque são vaidosos e gostam de ter o último brinquedo de luxo que aparece no mercado, submarinos, comboios, pontes, carros, por outro. Por cada vigarista há sempre um tolo. E assim é por este mundo fora. E entre tolos e vigaristas, os que são minimamente honestos e um pouco menos vaidosos, têm de fazer pela sua vida e se possível evitar uns e outros. No entanto todo este “zunzum” causa invariavelmente uma grande desmotivação, especialmente naqueles que sendo arrojados, de pensamento independente e “out-of-the-box”, se sentem ridicularizados, ostracizados, humilhados e injustiçados.

É nesta perspectiva contributiva (e não na do António José Seguro) de novas ideias que eu venho aqui tentar, num pequeno gesto, oferecer aquilo que poderá ser uma pedra fundamental na mudança de mentalidades. “Venho pois aqui falar de uma coisa que me anda a atormentar”. Motivação.

Motivação pode ser interpretada como um vasto conceito que incluirá preferências por um determinado resultado, uma vantagem, esforço (mole ou entusiástico) e persistência em face de certas barreiras, assim defendem os investigadores Andrzej Huczynski da Universidade de Glasgow e David Buchanan da Universidade de Cranfield. O psicólogo norte-americno Abraham Maslow, pai das teorias da motivação defendeu no seu conteúdo que todo o ser humano tem dentro de si nove necessidades e motivações inatas quer precisa de preencher para chegar a um alvo final, a auto-realização. Estas nove necessidades são:

1.     Necessidades fisiológicas; sol, comida, água, sexo, descanso e oxigénio, ou por outras palavras as necessidades básicas de sobrevivência individual e colectiva.
2.     Necessidade de Segurança; conforto, tranquilidade, libertar-se do medo e das ameaças do meio envolvente, abrigo, ordem, previsibilidade e um mudo organizado.
3.       Necessidade de afiliação ou relacionamento; ligação, pertença, afectos, amor e relacionamentos.
4.       Necessidade de estima; confiança, realização, independência, reputação, prestígio, reconhecimento, atenção e apreciação. Ou por outras palavras a necessidade de uma firme auto-avaliação baseada nas capacidades e no respeito pelos outros.
5.       A necessidade de saber e compreender; adquirir e sistematizar o conhecimento, a necessidade de ser curioso, aprendizagem, filosofar, experimentar, e explorar.
6.       Necessidade Estética; a necessidade de ordem e beleza.
7.       Necessidade de transcendência; necessidades espiritual, identificação “cósmica”ou “ser um com o universo”.
8.       A necessidade de ter liberdade de inquirir e de expressão; um pré-requisito essencial para a satisfação das outras necessidades.
9.       Necessidade de auto-realização; para o desenvolvimento do nosso potencial.

Como poderão perceber, existem necessidades básicas que se não forem preenchidas levam ao fim do indivíduo ou do grupo (e aqui grupo vamos chamar de nação, o povo de um país). No entanto existem outras necessidades que, embora não causem a morte, levam a grande desmotivação; por exemplo, a liberdade de inquirir e a liberdade de expressão são frequentemente constrangidas por procedimentos (burocracia?), regras (leis) e normas sociais (cultura). Tudo isto nos parece muito lógico e até afirmarão os meus leitores que até aqui nada de novo e que tudo isto nem necessitava de uma teoria por ser tão óbvio. Mas peço-vos um pouco mais de paciência, e tentem perceber, para já, as conclusões de Maslow. A hierarquia das necessidades tem portanto as seguintes cinco propriedades:

1.       Uma necessidade não é um motivador efectivo até as outras necessidades mais abaixo na hierarquia serem mais ou menos satisfeitas, ou seja é pouco provável que nos preocupemos com tubarões (ameaça à segurança) se nos tivermos a afogar (privação fisiológica).
2.       Uma necessidade satisfeita não é por si só um motivador. Se uma pessoa estiver bem alimentada e protegida terá dificuldade em aceitar ofertas de comida e de abrigo.
3.       A falta de uma necessidade satisfeita pode afectar a saúde mental. Por exemplo, a frustração, a ansiedade e a depressão que aparecem quando há falta de auto-estima, perda do respeito, e finalmente a inabilidade de desenvolver as suas capacidades intrínsecas.
4.       Temos o desejo inato como seres humanos de subir nesta hierarquia, uma vez estando as necessidades mais abaixo satisfeitas.
5.       A experiência de auto-realização estimula o desejo por mais e melhor. Quando se chega a este patamar, o auto-realizado tem o que se chama “experiências de auge”. Quando se chega a este patamar o individuo ou grupo precisa de mais experiências semelhantes até porque esta não pode ser satisfeita como as outras.

Tendo mostrado aqui o enquadramento teórico, pediria a todos os que me lêem que façam primeiro uma pequena auto-analise e reflictam em que patamar se encontram. Quanto ás conclusões individuais não poderei dar palpites, cada um saberá auto-avaliar-se, mas com certeza se eu inquirisse um a um, teria as mais variadas respostas. Façam agora o mesmo exercício mas numa escala maior e tentem perceber onde se encontra o nosso país. Talvez não andarei muito longe se afirmar que muitos concluíram que estaremos no nível quatro das necessidades. E acrescentarei que andaremos nesse nível há muito tempo, à tempo demais. Sem este nível satisfeito não conseguiremos alcançar o(s) patamar(es) seguinte(s). Por isso as ciências em Portugal andam coxas e mutiladas, as crianças desistem da escola tão cedo, as pessoas são avessas a novas e diferentes experiências, a explorar o desconhecido, a aventurar-se. Por isso se destruíram e continuam a destruir belezas naturais no nosso país, se tomaram iniciativas sem objectividade, se desdenham as artes. Por isso Portugal ainda vive, de certo modo arraigado a superstições, credos e tradições que não elevam de todo o espírito, apenas  cumprem uma função e nem se sabe nem se pergunta bem porquê. É claro que assim é impossível alcançar a liberdade de inquirir, de ter e de aceitar um espírito crítico, aqueles que colocam em causa o “estabelecimento” e os velhos dogmas e as caducas certezas.
Portugal tem em suma de se sentir reconhecido e apreciado, de ser um país reputado e não uma nação sem lei. Ou por outras palavras a necessidade de uma firme auto-avaliação baseada nas capacidades de cada um e do país como um todo, no respeito pelos outros, mesmo que pensem de modo diametralmente diferente do nosso. Precisamos de nos tornar uma nação que acredite no mérito, no esforço do verdadeiro trabalho, precisamos de objectividade, coerência, muita persistência e ânimo. 

Mas acima de tudo temos de fazer bem, para o merecer.

2 comentários:

  1. Quando tive o meu primeiro contacto com a «hierarquia das necessidades» de Maslow (e confesso que não foi há muito tempo) tive a sensação de quase-deslumbramento de quem vê sistematizado e explicitado algo que facilmente se intui mas que habitualmente se fica pelo nível do implícito. Na realidade, confrontando a pirâmide do velho Maslow com estes tempos de carestia, vemos que os povos europeus estão a ser empurrados para os níveis da base, para que assim percam o espírito crítico e recentrem a atenção nas necessidades mais básicas. Os senhores que se sentam nos Bilderbergs da vida conhecem muito bem esta pirâmide e usam esse saber como um freio das massas. E face a isto, o que fazer, nós simples mortais de curto raio de ação? Sejamos humanos, digo eu. Sejamos humanos, nós portugueses, no meio do nosso pântano e nevoeiro, nós europeus, debaixo da canga da alta finança, nós humanidade - divididos, atirados uns contra os outros por interesse de uns poucos. E uma das caraterísticas do ser verdadeiramente humano é o não poder ser encaixotado dentro de uma qualquer pirâmide teórica, ou melhor, o ter a capacidade de se subtrair a uma tal forma de cativeiro. É claro que nada disto exclui a questão da responsabilidade pessoal, onde tudo realmente se centra - mas enquadra-a e reafirma-a. E é a partir do enquadramento que podemos empreender a batalha que se impõe, e que é ela própria pessoal. É aqui que entra a humanidade, em tudo o que ela tem de criativo, de imprevisível e de arbitrário. Por outras palavras, é aqui que entra a loucura que carateriza um ser humano saudável. Onde se inclui a de perfurar as hierarquias de Maslow e não desistir de pensar na realização e no belo e no longo prazo mesmo quando nos estão a subtrair a comida do prato. Portugal e o Mundo precisam urgentemente de malucos.

    Subscrevo os teus dois últimos parágrafos, onde a maluquice também se enquadra.

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  2. existe uma hierarquuização de relevância nas teorias de motivação de Maslow que me irita um pouco e que vai de encontro ao que Skopos conclui "... perfurar as hierarquias de Maslow e não desistir de pensar na realização e no belo e no longo prazo mesmo quando nos estão a subtrair a comida do prato. Portugal e o Mundo precisam urgentemente de malucos."

    pensando eu que Portugal agoniza há décadas entre a satisfação das necessidades tipificadas de 1 a 4, na hierarquia de Maslow, esquecendo que a satisfação de todas elas ajudam essencialmente a satisfação das quatro primeiras - afinal as que suportam uma efectiva condição de sobrevivência física - e que é das últimas cinco que depende a sobrevivência moral, ética e criativa de um povo... pois, dá para perceber o lugar onde nos encontramos desde há demasiado tempo

    e Portugal está condenado exactamente por isso: vem de tempos ancestrais esta vocação de não apreciarmos "A necessidade de saber e compreender; adquirir e sistematizar o conhecimento, a necessidade de ser curioso, aprendizagem, filosofar, experimentar, e explorar."... o mais longe que fomos foi, por barco, à volta do mundo... o que entendemos explorar foi a condição humana dos outros

    de facto não tenho razões para me orgulhar de ser portuguesa e vem daí a minha tentativa de me enquadrar numa cidadania do mundo

    a pátria, para mim, é tão somente a língua que falo, as comidas que como e todos os lugares das terras e dos mares deste país... quando estou fora não tenho o menor sentido de saudade de mais nada, acreditem

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