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domingo, 20 de maio de 2012

Este final de democracia.




1 – Grécia. A Republica Helénica esta’ neste momento entre a espada e a parede. Ou continua as medidas de austeridade e empobrece ou sai do Euro e empobrece ainda mais. Enganem-se aqueles que pensam que a volta do Dracma e’ beneficiário para o pais de Sócrates (o filosófo). Sair do Euro significaria a total perda de credibilidade (já de si muito pequena) financeira, a incapacidade de pagar este ou pedir novos empréstimos nos mercados e um rombo nas poupanças dos cidadãos que veriam as suas (suspeito que magras) poupanças serem brutalmente desvalorizadas por uma moeda de pouco valor. Tal como Portugal, ou ainda pior, os gregos andaram a brincar aos países ricos e a jogar o seu futuro em apostas muito perigosas. O sistema de colecta de impostos é terrivelmente ineficiente, nunca foi modernizado e por isso não existe cruzamento de dados, permitindo que largos (todos) sectores da população fujam aos impostos. Michael Portillo, ex-ministro da defesa britânico, num documentário sobre a crise do Euro pergunta aos gregos onde foi parar o dinheiro investido pela UE. Escusado será dizer para onde foi. Muitos cidadãos gregos iludidos pelas baixas taxas de juro proporcionadas pela moeda forte compraram carros de luxo alemães como o electricista entrevistado que tinha um Porsche Cayenne à venda, e afirmou que na sua família de cinco pessoas todas tinham um carro (!). Agora anda de Smart… Outros ainda mais ricos, usaram os buracos legais para evasão de impostos e “investir” em luxuosos iates e casas. Quando o documentarista pergunta a Jason Manolopolous autor do livro “A Odiosa Divida Grega” se isto é algo cultural, ou os gregos não confiam nas instituições o segundo responde-lhe o seguinte: vamos ver isto de um modo contrário, se as instituições são fracas e não são capazes de impor um regime justo de cobrança de impostos, aqueles negócios que cobram o IVA a 23% aos seus clientes tem como competidores muitos mais negócios que não o fazem (por falta de fiscalização efectiva). Então o que temos não é uma instituição corrupta mas sim corruptora. 


2-Alemanha. Tida por muitos como (mais uma vez) o mau da fita desta interminável novela, a Republica Federal já teve a sua quota-parte de crise na década de noventa e princípios de 2000. Os que criticam os germânicos esquecem-se que em 1990 aquando do início do processo de reunificação alemã, a Republica Federal teve de injectar não milhões, mas triliões de Euros (à época, Marcos) na colapsada economia, infra-estrutura e administração politica da sua irmã de leste. Este longo e doloroso processo obrigou a Alemanha a grandes sacrifícios, a ter uma das taxas de desemprego mais altas da Europa, despovoamento inicial do leste, transferência, privatização e modernização da sua estrutura industrial já’ para não falar nos incentivos fiscais (subsídios) para atrair investimento para as cinco novas regiões administrativas entretanto formadas entre muitos outros problemas com que teve de lidar. No fundo um “bailout” para incorporar um estado falido, centralizado e centralizador noutro bem mais prospero e descentralizado. Isto obrigou os alemães ocidentais a perder poder de compra, a não ter aumentos salariais se tivermos em conta a inflação anual e o imposto que cada trabalhador pagava para a reunificação, o ordenado foi efectivamente reduzido, uma economia estagnada (que já’ crescia pouco antes da reunificação) e consequente desemprego e pressão na Segurança Social. E não apenas isso: no final da década de noventa os alemães conseguiram prever que com a emergência de economias como a chinesa, teriam de ser mais flexíveis, congelar salários e reestruturar a sua economia. Não é pois de estranhar que depois de mais de uma década de sacrifícios em prol da solidariedade, do nivelamento social fraterno e da competitividade económica, os alemães tenham uma ou duas palavras a dizer sobre austeridade e sacrifícios e não queiram pagar mais um, dois ou quatro "bailouts" de países que desviaram fundos comunitários para encher os bolsos e o ego de vacuidades mentais politicas e seus ultra-subservientes lacaios nesses mesmos ultrapassados estados. Eu pensaria igual.


3- Quem beneficiará com a queda do Euro? Poder-se-á pensar que os países de moeda e economia forte beneficiarão deste fim, bem pelo contrário. Tudo porque neste momento, ninguém na Europa ou Estados Unidos se pode gabar de altas taxas de crescimento económico nem de ter défices em ordem ou a economia segura. Para países fora do Euro (como poderá’ acontecer com a Grécia) e com moeda desvalorizada, o preço das importações de países de moeda forte (Euro, Dólar, Libra, etc.) ficaria muito caro mas facilitaria a exportação. Já para os países da Europa fora da Euro zona e Estados Unidos a actual instabilidade do Euro não lhes beneficia as economias, pois estes países na sua maioria têm a Euro zona como principal mercado. Se não exportarem, como vão manter empregos, empresas, impostos etc? No entanto para países com moeda mais fraca ou artificialmente controlada (Yuan chinês) isto significará maior facilidade transaccional. E talvez seja isso que os chineses andem à procura para entrar na Europa. Afinal, eles tem estado a comprar e a investir fortemente em países do sul da Europa (os tais em maus lençóis) como parte de uma estratégia de entrada no continente e como forma de receber de volta os empréstimos que fizeram aos europeus. Este é o grande paradoxo actual; a China é oproblema, mas também é ou poderá vir a ser parte da solução. 

Não estou aqui a apontar bodes expiatórios, até porque seria a solução mais fácil (e regra geral a menos inteligente), e essas não existem. Estou aqui a tentar abrir olhos das pessoas. Não podemos nem devemos culpar ninguém a não ser nos próprios pelo facto de estarmos a ficar para trás. Os países em geral são como as empresas: se uma empresa lança um produto mais competitivo no mercado, as outras não podem ficar a assobiar para o lado como se nada estivesse a acontecer. Se continuarem a fazer as coisas como sempre fizeram, vão acabar por fechar, ou a pedir empréstimos para financiar as suas ineficiências até não poderem mais e ou fecham de vez ou são compradas por outras e perdem a sua autonomia. E os países também são como as pessoas: se forem vaidosas e de cabeça cheia de vácuo, quando aparece um vendedor de banha da cobra a prometer-lhes um terreno na Lua ou a compra de um qualquer monumento nacional, vão cair na armadilha. Ficam sem dinheiro e sem terreno, mas claro, culparão o embusteiro em vez de se culpar a si mesmos por serem tão incautos. Claro que depois não tem autoridade para exigir seja o que for, não tem credibilidade. Os países também podem ser como alguns dos meus alunos que tentam saltar os passos dos tutoriais que eu lhes forneço nas aulas e depois me apresentam o resultado final mas sem conseguirem demonstrar como lá chegaram. Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo, sempre me disse o meu pai. E assim se perdem a credibilidade e os direitos.


BBC: Michael Portillo The Euro Crisis: http://www.youtube.com/watch?v=cEbioTWE6Gg

E para um ponto de vista oposto

BBC: Robert Peston The Great Euro Crash: http://www.youtube.com/watch?v=BkfWrbomh84

1 comentário:

  1. Os pontos de vista são apenas apostos no que toca à moeda futura.

    Ambos culpam o "spending spree" dos gregos, consequência do acesso ao dinheiro "barato" fruto da entrada no Euro.
    A solução passará sempre por um disciplina financeira dos países em dificuldades. (Não podem ser corruptos, fugir aos impostos, trabalharem de forma pouquíssimo eficiente q querer viver à grande. Isso é impossível).

    Interessante também a noção de que nunca antes uma moeda única tinha sido "ensaiada" numa situação de tamanha diversidade. Não podemos ter uma sob a mesma moeda países com tributações fiscais diferentes, serviços sociais e de pensões completamente diferentes. Não está a funcionar (Vemos isso agora, que há 5 anos atrás nem os mais clarividente ousariam sugerir que o Euro fosse outra coisa que um sucesso completo).
    Com isto quero dizer que os estados dos EUA sob o dolar ou que os países do Reino Unido que partilham a Libra esterlina têm muitíssimas menos diferenças que os países que partilham o Euro.

    PS: Adoro ver este tipo de documentários. Sempre com uma opinião critica. Já tinha visto na BBC I PLayer a reportagem do Robert Preston, e ontem à noite depois de ver aqui no teu blog vi o do Michael Portillo

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