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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Evanescence




            Esta noite sonhei que sonhava contigo.
No corpo trazias um vestido coberto de incertezas, na cabeça um lenço cheio de dúvidas. Na mão trazias um chapéu de sol que projetava uma pequena sombra. Eras tu essa mesma sombra.

Ao longe uma voz fazia-se ouvir, como o murmúrio de uma cascata a grande distancia,
ou como a rebentação das ondas que se ouvem por entre as copas das árvores numa floresta costeira. O ar estava quente e húmido, caribenho, mesmo antes da tempestade.

E a voz chamava por ti. Tu imóvel, escutavas de olhos fechados e sorrias como se ouvisses música. Eu pressentia nervoso que a voz te atraía para si. Tu imóvel, de olhos fechados, sorrias iluminada por relâmpagos de uma trovoada  silenciosa. E escutavas e escutavas.

 Entraste numa casa de madeira que ardia devagar. Acendeste a luz alaranjada que refletia tremeluzente as chamas por uma ampla janela. E vi-te despir as incertezas e as dúvidas ao por-do-sol. E a voz calou-se. O ar continuava quente e húmido e o céu  saturava-se de nuvens espessas. Penteavas os cabelos, escovando o que restava de mim em ti. Pó. Um pó que caía cintilante no chão e que o movimento do ar quente levava para longe, como uma velha recordação antiga e perdida no tempo.

Ainda nua colocaste duas flores de laranjeira, uma no coração, outra no flanco.  O cheiro invadiu o meu sonho e ouvia-se um saxofone tocando blues à distância, encurralando os sons da noite que se dissipavam, espessos por entre as notas.

Voltaste a sair da casa que se desmoronava lentamente, consumida pelas chamas e pela tristeza, e dançavas. Dançavas nua, apenas coberta pelo luar reflectido nas nuvens, como se estivesses submersa num imenso oceano. E dançavas devagar por entre as sombras.

E vi-te desvanecer como um fantasma,
E vi-te desvanecer como um fantasma,
E vi-te desvanecer como um fantasma...



©Alexandre Rodrigues 2013

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