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domingo, 4 de outubro de 2015

Bruma







Se ao menos a bruma se desfizesse
E a vida num fulgor tornasse clara,
Tua voz perdida no tempo me trouxesse
A verdade que meu olhar tanto desejara.

E que essa verdade, doce ou amarga,
Fosse não mais que real e sincera,
Não velada. Mas pura, verdadeira,
Aquela que meu coração tanto ansiara.

O ombro onde tua cabeça repousou
Uma tarde, de cansaço derrotada,
Carrega a tatuagem dessa antiga ternura
Não na pele, mas em uma mente abismada.

Ah, se amaldiçoei tão puro momento,
Que num instante minha vida mudou.
Porquanto nenhum de nós então alcançara,
Aquilo que cada um a seu modo julgou.

E um terramoto daí adveio,
Fazendo vítimas mortais.
A lentidão de tantos anos pesou,
Dessas mortes choradas, duas já foram demais.

Porque depois de tantas décadas perdidas
E conjecturas gastas, quais pedras de calçada,
Ressuscita, num abraço teu, o coração e a rosa
Esmagados, aparentemente por nada.


©2015 Alexandre Alves-Rodrigues

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