A iminente queda da civilização ocidental.
Há dias vi um interessantíssimo documentário da BBC sobre o renascimento do Oriente e particularmente da China, o dragão adormecido. Tal com o mítico animal medieval, a China tem queimado mercado atrás de mercado com a sua mão-de-obra-barata, ética de trabalho árduo e um rapidíssimo “catch-up” tecnológico em relação ao “Ocidente”. E isto tudo produzido apenas na faixa litoral deste imenso pais, dado que o mercado interno nas províncias interiores ainda está “por desbravar”. Certo que este desenvolvimento tem tido custos imensos, especialmente nas “sweat-shops”, nas falhas de direitos dos cidadãos, mas afinal um império não se constrói sem sacrifícios, se bem se lembram, foi assim que o Reino Unido construiu o seu nos séculos XVIII e XIX com a ajuda da revolução industrial que veio impulsionar a tecnologia, mas também criou muita miséria humana e injustiças. No entanto, este império já não é novo, lembre-mo-nos que existe há mais de 4.000 anos e até há cerca de quinhentos anos atrás, a China seria provavelmente o país mais avançado do mundo, com cidades bem planeadas que fariam corar de vergonha as grandes metrópoles europeias da época. No entanto, depois de séculos de desenvolvimento tecnológico, e especialmente depois do Imperador Zeng He (dinastia Ming) ter estimulado as artes e a cultura e também as viagens marítimas de descobrimento de novos mercados (não foram só os portugueses), e diz-se que chegaram ‘a costa ocidental americana. Depois de uma série de revoltas e contra-revoltas a dinastia Qing (sucessora da Ming) fechou-se em copas e tornou-se defensiva, virada para dentro e vindo a perder a influencia externa que ate aqui tinha tido no Oriente. Chegam os ocidentais e o pais ainda mais defensivo se torna, e mais fechado. Este período durou cerca de 500 anos, com a balança de influencias de um mundo cada vez mais pequeno, para a civilização ocidental euro-americana.
Como em tudo nesta vida, os impérios vão e voltam e neste momento sente-se o ressurgimento do velho dragão chinês que está a inverter as influencias económicas mundiais. Lembro-me bem de ler um livro que havia nas estantes de casa dos meus pais cujo titulo era: “Quando a China Despertar (o mundo tremerá)”. E é aqui no Império do Meio o epicentro da crise económica ocidental que cada vez mais se agudiza. Se não vejamos, tudo começou com produtos de baixa tecnologia e relativamente simples há cerca de 20 anos atrás. Depois foram os têxteis e o calcado há cerca de 10 anos e mais recentemente tem sido a industria eletrónica. Daqui para a frente serão as industrias de alta tecnologia e tecnologia de ponta (automóveis, aeroespacial, microeletronica, etc.) que vão ser dominadas pela China. E a desolação sente-se por todo o mundo ocidental; fábricas que fecham, dos Estado Unidos ‘a Polónia, cidades inteiras abandonadas por falta de trabalho (Detroit já é um exemplo disso). A pressão sobre os recursos naturais também é cada vez maior: mais petróleo, minerais, e matérias-primas estão a ser disputadas pela China e outros países em desenvolvimento, fazendo aumentar o preço dos mesmos nos mercados mundiais (dominados até aqui pelo Ocidente). Quando uma matéria prima é necessária na China, os mercados secam completamente, fazendo dispara os preços, tal como aconteceu com o aço há alguns anos atrás. É esta “revolução industrial” que está a enriquecer a China. A China é já um dos maiores emprestadores de dinheiro a nível mundial, ultrapassando o Japao e os Estado Unidos. Pensem nisso quando voltarem a desdenhar dos chineses, ou a contar anedotas jocosas sobre os mesmos. O que se está a passar neste momento é uma guerra económica e a balança volta a pender para o Império do Meio.
E o Ocidente? O resultado de tudo isto é o empobrecimento do Ocidente. Um Ocidente que foi (ainda é) o centro cultural do mundo e que tal como aqueles velhos aristocratas falidos dá-se aparências de rico, mas tem de pedir emprestado aos seus serviçais. Endividou-se demasiado, enredou-se em jogos de azar que só aceleraram a sua já previsível queda. Tal como a China há 500 anos atrás, é de esperar revoltas, sangrentas ou não, convulsões e um período de austeridade económica que nos ira fazer regredir pelo menos cinquenta anos, um fechar de portas para o resto do mundo (o oriente neste caso), provavelmente futuras humilhações políticas e militares e quiçá quinhentos anos de isolamento. O que se passa nos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) irá alastrar-se provavelmente ao Reino Unido, Itália e outros. Os Estado Unidos ainda não estão de joelhos, mas pouco falta. As necessárias contenções fiscais que irão durar décadas, vão apenas acelerar o empobrecimento do ocidente, se não vejamos, desinvestimento na educação, ciências e tecnologia, financiamento da economia cada vez mais dificil, irão estagnar o nosso desenvolvimento e mergulhar o “Ocidente” novamente numa era de “trevas” da qual dificilmente sairemos. Alguns poderão contra-argumentar que sem o mercado “ocidental” a China não poderá vender os seus produtos. Quanto a isso eu respondo 1) A China tem uma visão da economia a muito longo prazo (ao contrario de nos ocidentais) 2) Existem mais países grandes em desenvolvimento (BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China) com mercados ainda relativamente imaturos. 3) O mercado interno chinês ainda não está totalmente coberto, existindo largas faixas de território ainda com níveis de vida equivalentes aos do Paquistão, e com populações igualmente grandes, portanto se mais nada resultar, o mercado interno tem capacidade de absorver toda a produção nacional. E finalmente 4) África. A China é cada vez mais “a” potencia influente em muitos países africanos onde tem interesses extrativos e industriais instalados. E a sua filosofia de exploração de recursos naturais é muito diferente da ocidental. A China não está interessada em expandir territórios, e sim em expandir influencias, e para isso apresenta melhores propostas de negócios aos seus parceiros. Possivelmente propostas menos desonestas do que as do “ocidente”.
Por tudo isto creio que estamos no começo do fim de um período que durou cerca de meio milhar de anos, quando um pequeno país do Sudoeste da Europa abriu as fronteiras do mundo e encurtou a distancia entre o “ocidente” e o “oriente”. E o resto é História.
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