Infelizmente o número de caracteres da janela de comentários não me permitia responder tudo o que queria ao leitor Óscar, a quem agradeço por ter lido o meu post e espero que o resto do blogue. Quanto à tua primeira questão sobre a demografia europeia já escrevi sobre esse assunto em Outubro do ano passado aqui, e a minha opinião mantém-se. Quanto à micro-economia, não desenvolvi muito a minha opinião no artigo porque é um assunto sobre o qual não tenho tanto conhecimento. No entanto, tal como no mercado existe flexibilidade entre oferta e procura de bens ou serviços, o mercado de emprego deve, na minha humilde opinião, adaptar-se a essas variações. Se para a minha geração o emprego monolítico é algo que já deixou de existir, e portanto as esperanças de uma carreira são muito poucas, as gerações futuras deverão ser treinadas num enquadramento de flexibilidade laboral que lhes forneça ferramentas suficientes para o fazer, sem obviamente os explorar (demasiado).
Quanto ao falhanço económico Europeu, este tem várias explicações; culturais, históricas e políticas. Culturais porque a diversidade de povos que compõem a Europa têm , regra geral, identidades muito fortes e visões muito diferentes do mundo (e da economia). Ao contrário dos Estado Unidos e outros países do Novo Mundo que agregaram debaixo de uma única constituição os povos migrantes (e nativos) construindo assim uma cultura política e económica única dentro das muitas culturas amalgamadas nos seus territórios, a Europa sempre foi e será um continente de culturas diferentes, com princípios políticos diferentes, logo dificilmente unificável. Também já abordei levemente esse assunto aqui embora me tenha restringido a Portugal. Se leres esse artigo encontrarás um link para o site do professor Geert Hofstede, um pioneiro na classificação dimensional dos povos e que explica muito sobre as suas diferentes visões políticas, económicas e culturais. Outra das razões porque falhou foi o facto de o Euro, um excelente projeto ter sido vitima de políticos no mínimo incompetentes um pouco por toda a Europa, pelo simples facto de terem construido a "casa" pelo telhado, ou seja começaram com a moeda, em vez de começarem pela política fiscal, já para não falar do facto de ninguém(?) ter percebido que alguns países manipularam as contas para parecer que estavam prontos para o Euro, estando na verdade muito longe disso. E assim que a economia entrou em recessão em 2008, depois do "dinheiro fácil", as fraquezas dessa "casa" apareceram, e veremos se não a farão desabar.
Quanto ao Estado-Social, também ele tem origem na Grande Depressão de 1929 e expandiu-se depois da II Guerra Mundial. A miséria que se vivia na Europa, e a desagregação social, já para não falar na desumanização das populações e a pobreza abjeta em que viviam foram suficientes para despoletar o surgimento destes mesmos estados-sociais. Eu aqui gostaria de corrigir aquilo a que chamas de Socialismo para Social-Democracia (são escolas diferentes). Eu prefiro a segunda. E se para o americano médio o Estado-social é uma heresia (por razões históricas), para o Europeu médio o Estado-Social é quase sacrossanto (pelas mesmas razões). O que os políticos tem feito dele é outra história. Uns foram mais bem sucedidos que outros, e aqui voltamos à questão cultural (vide Geert Hofstede). O Estado-Social tem, como tudo na vida, de ser equilibrado, não pode ser imposto a quem não o quer e quando é aplicado deve ter em conta os tais fatores culturais. Mas acima de tudo deve ser realista; um país pobre ou mal-governado não pode exigir do seu Estado-Social o mesmo tipo de regalias que o de um país rico ou bem-governado. Seria o mesmo que eu (pobre ou mal-governado) dirigir-me ao stand da Mercedes e exigir que me vendam o topo de gama da marca em prestações muito baixinhas e a trinta anos. Deveria sim, se calhar comprar um carro em segunda-mão ou mais barato que fosse possível pagar sem me arruinar a carteira. Eu continuo a defender um Estado-Social, mas que o seja onde realmente faz falta, a quem realmente precisa e adaptado às circunstancias de cada país.
"J'ai tendu des cordes de clocher à clocher; des guirlandes de fenêtre à fenêtre; des châines d'or d'étoile à étoile, et je danse." Rimbaud
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segunda-feira, 25 de março de 2013
domingo, 24 de março de 2013
O Futuro da Nossa Situação Económica
Ainda há muito boa gente por essa
Europa fora, e particularmente em Portugal, achando que o velho continente já
bateu no fundo. Há ainda pessoas que se espantam quando afirmo que ainda não.
Desenganem-se aqueles que pensam que isto não pode piorar. Pois pode. E vai.
Não gosto muito de ser tomado por “velho do Restelo”, mas quando se começam a
fazer contas, as coisas não batem certo. Já o disse aqui que o Ocidente
está em declínio. Continuo a defender essa hipótese e basta usarmos as nossas
cabecinhas para compreender que esta é a década perdida, um preludio da grande
pobreza que aí vem (para não dizer miséria) e que a austeridade que era para
durar até 2012, agora vai durar até 2018 (dizem os iluminados políticos), mas
suspeito que vai entrar bem dentro da próxima década, e serão precisas muitas
mais para reconstruir o estrago que está a ser feito na economia e nas vidas
das pessoas.
1- A
distribuição dos recursos naturais.
Como é sabido, as duas últimas
décadas viram países com
o a China, Índia, Brasil e Rússia (os chamados BRIC) a
ter crescimentos económicos próximos, ou mesmo ultrapassando os dois dígitos.
Ao mesmo tempo que o Ocidente crescia muito devagar, poucos ultrapassaram os 3%
(que é o mesmo que dizer zero, se adicionarmos inflações do mesmo valor, fracas
exportações, etc.). Acresce também a redução do tecido industrial em quase
todos os países desenvolvidos, transferida para estes países em crescimento,
com ordenados muito mais “competitivos” e leis de trabalho mais flexíveis
(desenganem-se aqueles que acham que os chineses trabalham por pouco mais que
uma taça de arroz), onde em certos casos, como o da industria têxtil na China,
os trabalhadores se dão “ao luxo” de mudar de emprego se acharem que a fábrica
X onde trabalham lhes pagam menor ordenado ou lhes dá menos condições que a
fábrica Y ao fundo da rua. Claro que, comparativamente, os salários ainda são
baixos em relação ao dos países ocidentais. E pensando assim, de que valeria ao
Ocidente produzir os mesmos bens que os BRIC (caso o tecido industrial se
tivesses mantido) se depois não os conseguiria vender (basta ver o estrago que
as lojas chinesas têm feito no sector comercial português) e muito menos
exportar. Se o cidadão comum gosta de um bom desconto, as empresas (ainda mais)
não são indiferentes aos preços do mercado. Percebem agora porque o tecido industrial
se erodiu? E alguns países nunca investiram em tecnologias avançadas e de nicho
(apenas possíveis com um bom sistema de ensino por trás), continuaram a querer
competir com estas novas potencias.
Mas o grande causador do corrente
declínio económico (e consequente empobrecimento das populações) é a nova redistribuição
dos recursos naturais e o acesso aos mercados. Mesmo se pensarmos que em termos
gerais os recursos naturais não se reduziram (a questão é ainda alvo de debate)
nem aumentaram em relação há vinte ou trinta anos atrás, o número de países ou
blocos económicos no mercado da extracção e no mercado de transacções aumentou
em mais de 50%, concorrendo exactamente o mesmo número de recursos disponíveis.
Mais ainda se tivermos em conta que os bens produzidos com essas
matérias-primas nas últimas décadas também disparou (daí os bens de consumo
terem baixado de preço e as taxas de juro também), basta fazer umas pequenas
contas para percebermos porque defendo que as coisas tendem a piorar. Correndo
o risco de ser demasiado simplista no exemplo que vou dar, julgo que este
ilustra de modo claro o problema económico actual:
Onde há trinta anos teríamos um
recurso económico a ser explorado (cobre, por exemplo), por três grandes blocos
económicos (EUA, Japão e Europa); 1:3, hoje temos pelo menos seis a explorar e
a transaccionar esse mesmo recurso; 1:6. No primeiro caso cada bloco ficaria
com 0.33 desse recurso, no segundo caso, o actual, cada bloco ficará com 0,166
desse mesmo recurso que, logo por causa da lei da oferta e da procura ficará
mais caro que antes porque mais procurado. Se acrescentarmos que a velocidade de
extracção desse recurso é maior que à trinta anos, assim como a transacção,
processamento e venda, então conseguimos perceber porque estamos, e porque
vamos ficar mais pobres.
2- O
nivelamento das economias.
A consequência desta corrida aos
recursos é o nivelamento das economias. Ou seja, em termos muito gerais, neste
momento as economias em crescimento estão a ver os seus níveis de vida a subir,
os salários e as condições de trabalho a melhorar, etc., mesmo que nunca
cheguem a atingir o mesmo nível em que o Ocidente se encontra (ou encontrava),
qualquer melhoria é melhor que nada. Mas o outro lado da moeda para os países
ricos é que, tal como, como quando duas colunas de água (os recursos) separadas,
uma completamente cheia (o Ocidente) e outra quase vazia (o resto do mundo) se
juntam (o mercado), a coluna mais alta nivela com a mais baixa, perdendo altura
a primeira e ganhando a segunda.
3- Quanto
tempo vai durar?
Tudo aquilo que expliquei em cima
refere-se à macroeconomia. Quando falamos de cada país, as más consequências
serão mais rápidas quanto mais vulnerável for a economia do país e o seu
sistema governativo. Daí os casos (embora com origens diferentes, mas com consequências
semelhante) da Grécia, Irlanda, Portugal, etc. As economias mais robustas e
aquelas que tem mecanismos governativos mais limpos e transparentes também estão
a ser afectadas, no entanto o decrescimento é mais lento, e o empobrecimento
também, com as consequências que todos sabemos. Basta ouvir as notícias aqui no
Reino Unido para percebermos que este país (no meio da tabela económica
europeia) já perdeu, do ponto de vista económico, tanto dinheiro quanto o que
gastou na II Guerra Mundial. Para termos uma ideia da gravidade da situação, o
Reino Unido, que ficou na bancarrota levou mais de quinze anos desde o início
do conflito a levantar as barreiras de racionamento (com a “ajuda”
norte-americana). Se juntarmos a isso a crise de 1929, da qual o país nunca
recuperou verdadeiramente, então temos vinte e cinco anos de austeridade. Daí
que quando os políticos anunciam austeridade até 2018, fazem-no para ganhar
tempo. É obvio que ninguém acredita neles. Nem eles próprios.
4 - O que
fazer para minimizar os estragos?
Para minimizar os inevitáveis
estragos, temos então de pensar de um modo muito alternativo sobre como vamos
levar as nossas vidas daqui para a frente. Claro que aqueles que têm um
emprego, por muito mal pago que seja, mas que pague algumas despesas, deve
tentar mantê-lo. Mas isso não será suficiente. Aqueles que têm algum dom ou
passatempo, como por exemplo a doçaria, ou a música, talvez devam começar a
pensar em tirar partido financeiro destes. Se tiverem um bocadinho de quintal
criem uma pequena horta, ou se não tiverem, juntem-se com os vizinhos e tentem
explorar hortas comunitárias. Já existem exemplos até no topo de prédios de
habitação. Não esperem por ninguém, e muito menos pelo Estado para resolver a
vossa situação económica. As trocas de bens e serviços vão crescer. Já existem
estabelecimentos comerciais e feiras de trocas de bens a funcionar em Portugal aqui e aqui.
E acredito que irão proliferar.
Reduzir as necessidades. Este é
outro grande problema que a sociedade moderna pariu quase sem dar por isso.
Vivemos rodeados de coisas que, se pensarmos bem nelas, não nos fazem falta
nenhuma. Eu chamo-lhes de brinquedos de adultos. Evito aqui dar exemplos, cada
um terá de reflectir quais serão as suas “necessidades” pessoais e reduzi-las.
Outra falácia é a de comprar muitos bens de consumo baratos e de baixa
qualidade que, ao fim de pouco tempo se estragam ou avariam, sendo então substituídos
por outros do mesmo género. Porque não investir num bom par de sapatos de
qualidade, que dure um bom par de anos, em vez de todos os meses ou épocas comprar
um ou dois pares de péssima qualidade. Faça as contas e talvez se surpreenda no
quanto pode poupar. A simplicidade acima de tudo: Quem conhece um pouco da
Europa, por ter tido o privilégio de viajar ou viver nela, sabe que na maioria
dos países do norte, as pessoas, ao contrário do que se pensa, vivem com poucos
luxos. As casas, as mobílias são simples, muitas vezes compradas em segunda mão
ou transmitidas de geração em geração. Eu conheço pessoas com bons empregos por
essa Europa fora, que nunca compraram carro novo. Ou se o fizeram, já foi tarde
na vida, aqueles que puderam. Não é raro encontrar pessoas com carros com mais
de dez anos a circular em perfeitas condições.
Está na altura das pessoas
acordarem e ser mais exigentes com as classes politicas. Se a indiferença por
vezes não funciona (porque lhes abre a porta para fazerem o que querem) então
haja de modo inteligente. Não é muito difícil ser mais inteligente que um
politico actual. Ou é? Não pactue com a desonestidade. Se todos deixarmos de
pactuar com a desonestidade, ela acaba. Não basta manifestar-mo-nos nas ruas, ou
nos comentários que fazemos às peças jornalísticas junto dos amigos ou na Internet. Essa, junto com o voto, é a ilusão de liberdade que os políticos nos venderam.
A peixeira só vende peixe de má qualidade se tiver quem o compre. Caso
contrário, terá de ser ela a melhorar a qualidade do produto, ou fechar as
portas. A liberdade está em mudar o que está mal.
Mas não se esqueça: as coisas
ainda vão piorar mais do ponto de vista económico. Não torne a sua vida ainda
mais difícil do que ela é. Valorize o que é realmente importante.
©Alexandre Rodrigues 2013
sábado, 23 de março de 2013
quarta-feira, 20 de março de 2013
Carpe
Há
vários meses que não durmo. Há vários meses que não durmo uma noite seguida.
Sou constantemente acordado, não por pesadelos (antes fosse), mas por uma força
invisível que me levanta da cama. Quando a esta torno, estou acordado, bem
acordado. E dou voltas na cama.
As
Sextas-feiras são o pior dia da semana. Estou demasiado cansado, exausto,
irritado, de não conseguir dormir. Respondo torto quando não rosno. Perco as
estribeiras, eu que tenho a paciência de um santo.
O
Cansaço é tal que não consigo pensar, não consigo refletir, meditar, aproveitar
os dias. Aproveitar. Estou tão cansado que já nem sei o significado da palavra
aproveitar. É um verbo. São apenas e só letras, dispostas umas atrás das
outras; a-p-r-o-v-e-i-t-a-r, sem qualquer significado. O significado foi-lhe
retirado, esvaziado, como se faz aos cadáveres para embalsamação. Retiram-lhes as entranhas para não
apodrecerem, não deitar cheiro. Eu sou um cadáver, sem entranhas, sem
aproveitamento; esvaziado, esventrado. E permaneço aberto, a carcaça recheada
de salitre, a secar ao estio do deserto. Seco. A mirrar. Parece mesmo que está
vivo, oiço. E que bom aspeto tem. Não envelheceu um dia sequer.
E
os dias a passarem por mim, iguais, seguidos, os fins-de-semana iguais às
semanas, as semanas iguais aos fins-de-semana. Os dias a aproveitarem-se de
mim, seco, sem entranhas, a minha carcaça cheia de salitre para não apodrecer,
para não cheirar mal. E os dias a rirem-se de mim: parece mesmo que está vivo.
E que bom aspeto tem. Não envelheceu um dia sequer. A aproveitarem-se de mim. Da minha
imobilidade. Ainda não vejo insetos a trepar paredes, mas há vários meses que
não durmo uma noite seguida.
©Alexandre
Rodrigues 2013
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