O primeiro-ministro David Cameron nunca me convenceu nas suas intenções antes da eleições, e os meus piores receios (que ele fosse um primeiro-ministro ao estilo português) começam a tornar-se realidade.
Quando alguém diz que tem uma ideia de criar uma “Grande Sociedade” ou “Big Society” como Cameron lhe chama dizendo que quer devolver o poder ‘as autoridades locais é de desconfiar, principalmente vindo de um Tory. Mas o pior nisto é como a coisa esta a ser dirigida e apresentada (como se fossemos todos burrinhos ou com 5 anos de idade).
Como é que alguém pode ter a desfaçatez de querer devolver o poder local aos municípios e ao mesmo tempo corta os fundos aos ditos. Neste momento estão em perigo de fechar por todo os pais milhares de bibliotecas, ginásios, centros de dia, etc. devido aos cortes anunciados. Só em Liverpool (um dos municípios mais pobres e com uma das maiores taxas de desemprego no Reino Unido) vão ser cortados £91 milhões.
Cameron tem incentivado a população a fazer trabalho comunitário, ou por outras palavras, se quiserem as bibliotecas abertas trabalhem de graça e não se queixem, num clima em que o IVA aumentou para 20%, os números do desemprego continuam a subir e os jovens licenciados não encontram trabalho (meu Deus eu já vi este filme), os combustíveis aumentam diariamente e ainda querem adicionar uma sobre-taxa ao imposto sobre combustíveis em Abril, a inflação já vai nos 4%, para o ano que vem são os cortes nas universidades com os tectos das propinas de £3,500 para £9,000 anuais, e os inevitáveis encerramentos de cursos, especialmente nas Universidades mais pequenas cujos alunos vem de famílias com poucos rendimentos (ao contrario dos meninos de Ox-Bridge como Cameron e toda a escumalha Tory). O ministro das Finanças (outro menino do papá) afirmou que estamos todos juntos nisto pouco tempo antes de ter ido passar umas ferias de Natal de £7,000 num resort de luxo na Suíça e de se saber que as suas empresas estão todas sediadas em off-shores.
O resultado será o fim da mobilidade social iniciada nos anos 60 num pais que ainda subtilmente é dividido em três classes, uma clique de governantes filhos de papás (estupidamente) ricos saídos de Ox-Bridge, um povo que vai voltar a condições de trabalho muito semelhantes ‘as da revolução industrial (se bem que sem a fuligem), o fim da “classe média” e um fosso cada vez maior entre ricos e pobres ( meu Deus eu já vi este filme).
Na melhor das hipóteses nas próximas eleições legislativas os Britânicos voltam para os trabalhistas de novo (um mal menor). Nos tempos da “Maggie Thatcher”, de tão má memória, o trauma foi de tal modo grande devido ‘as vagas de desemprego que gerou, que desde então, na Escócia os Tories não elegem nem um deputado. Obstinados, estes Escoceses.
Se Portugal precisa já de uma revolução, o Reino Unido precisa de uma reviravolta muito grande (porque aqui não há memória de revoluções) para tirar de lá este fantoche que vai enterrar o resto deste pais no lamaçal.
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