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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Velhice III


Os meus leitores pensarão que estou obcecado com este tema, mas os acontecimentos dos últimos dias têm-me feito pensar por demais no assunto, não só na senhora que estava morta há nove anos mas especialmente no estado das nossas sociedades. Estes factos são uma excelente analogia do que se passa nelas. Uma sociedade onde as pessoas com mais de 30 anos são consideradas demasiado velhas para trabalhar (porque têm experiência (a mais) e logo deveriam ser mais bem pagas, e por isso mesmo estão a ser postas de parte). Uma sociedade, onde devido 'a aculturação americanizada do qual fomos todos alvo especialmente depois da II Guerra Mundial e depois de uma niponizacão da industria a partir dos anos 70, apenas olha para o seu umbigo, quer vencer a todo custo e a passar por cima de todos, onde o culto da perfeição e da juventude imperam e uma desumanização gradual da sociedade relega fatias importantes da mesma (e do mercado) para um canto obscuro da existência. É pois esta sociedade que deixou Augusta Martinho jazer morta durante nove anos em  casa sem que (quase) ninguém se preocupasse.

Ninguém deu por o corpo cheirar mal. Numa sociedade podre como a nossa, os maus cheiros misturam-se, é natural que ninguém desse por nada.

1 comentário:

  1. Só uma nota em relação a ninguém ter dado pelo cheiro: é que o cadáver mumificou, isto é, entrou num processo alternativo e não se decompôs. Os habituais micro-organismos que tratam de consumir, com grandes emissões fedorentas, os corpos mortos (e até alguns vivos), juntaram-se às autoridades policiais e civis na sua indiferença para com a morta. Por isso não houve cheiros. Parece que a indiferença alastra para lá das fronteiras da humanidade e até do mundo animal e chega aos estafilococos.

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